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Meu Diário
19/03/2018 16h40
Casa de Jamil Munbarak

A casa de Jamil Munbarak

       A Casa São Pedro, construída em 1942, por Bernardo Thiago de Mattos, quando resolveu urbanizar a cidade de Itapecuru Mirim. Lá passou a funcionar o comércio de secos e molhados de Jamil Munbarak, que mais tarde, em 1948, construiu ao lado, sua residência, segundo anotações, no texto de Jucey Santana.

       Era uma das casas onde fazíamos compras. Princippalmente, os aviamentos para mamãe que era costureira. Quando não tinha na casa de Helena, como era conhecida a Casa São Pedro, comprávamos na casa de Mundiquinho Mendes, na Rua do Egito.

        Os irmãos Jamil e Helena Munbarak eram os padrinhos de minha irmã caçula, Maria do Socorro. Não sei precisar a data, mas lembro quando Jamil se casou. Eu era pequena, doze ou treze anos. Um dia entrei com mamãe no comércio. Ela cumprimentou o compadre e parabenizou-o pelo casamento. A esposa estava com ele no comércio e foi apresentada à comadre.

        Ele pediu à esposa que mostrasse a casa para mamãe. Saímos do comércio e entramos na residência. Nos fundos, após uma área interna, contornamos uma pilha de tijolos, para chegarmos aonde estavam sendo construídos novas dependêcias para Helena e Nazaré, já em fase de conclusão. 

       As duas irmãs se revezavam no Comércio, ao lado do irmão. Após o casamento, mesmo Maud sendo professora no Grupo Escolar Gomes de Sousa, eu a vi muitas vezes, ao lado do marido trabalhando na Casa São Pedro.

      Em 2011, numa das minhas idas a Itapecuru, fiquei hospedada no Hotel Brasil, X com a Casa São Pedro. A cor, o letreiro, as portas, tudo continuava como sempre! Tive curiosidade de saber como estavam aquelas pessoas que eu conhecia há tanto tempo, e fui visitá-los! Lá estavam Jamil e Maud no comércio. Perguntei a eles se lembravam de mim e disse meu nome:  Sou Benedita. Na hora, ele falou: Você não é a filha do compadre Euzébio e da comadre Rosinha que foi para o sul? Diante da minha confirmação ele começou a contar a história da morte do meu irmão, em 1954, quando eu tinha dez anos. Na conversa ele falou da tristeza que sentiu quando soube da morte de meus pais: mamãe em 09/12/93 e Papai em 07/04/96.

      No dia seguinte, voltei com Jucey Santana, que eu acabara de conhecer e andava pesquisando a vida de Mariana Luz. Jamil sabia de tudo. Parecia uma enciclopédia. Os olhos brilhavam diante das nossas perguntas.

      Antes de sairmos, tiramos fotos do casal e nossas.  Ele me disse: Vem aqui amanhã que quero te mostrar os instrumentos de tortura da época da escravidão.

     No dia seguinte, voltei, tirei fotos dos objetos e foi o último contato que tive com os amigos.

     Ao retornar, em 2016, a casa estava fechada. O casal estava em São Luís em tratamento de saúde! E agora, esta notícia de que a casa será demolida! Sangra meu coração!

Benedita Azevedo

Rio de Janeiro, 19 de março de 2018

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Publicado por Benedita Azevedo em 19/03/2018 às 16h40
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