08/07/2020 22h56
Histórias e fotos - capítulo II
.Capítulo II – Carteira de identidade (recuperada) .Em 1962, completava dois anos que eu morava em São Luís e um trabalhando no comércio. Com a jornada dupla não me sobrava muito tempo para diversões. Descobrira com as colegas de trabalho um vesperal dançante no Sindicato dos Comerciários, perto da Igreja da Sé, aonde ia vez ou outra. Gostava de dançar roque e aprendi com amigos o samba-canção. Os músicos começavam às catorze horas e terminavam às dezenove. .Naquele ano eu pretendia participar da Festa de São Benedito, segundo mamãe, meu protetor. Mas, quem me protegeu foi Santo Antônio. Viajei na sexta ao final do trabalho. Desembarquei do ônibus frente à casa de Zequinha Matos, na cabeceira da ponte, do lado da Trizidela. Cheguei de surpresa bem na hora do jantar. Mamãe sempre muito observadora se manifestou: Já vi que veio correndo, nem trouxe a mala! Foi aquela alegria! Expliquei que voltaria na segunda-feira no primeiro ônibus, pois tinha de trabalhar. Meu pai disse que eu estava bonita. Mamãe queria saber notícias dos parentes de São Luís e se eu tinha levado roupa para ir à missa. Se não, meu pai compraria na Dona Rafiza e ela faria um bem bonito no sábado. Era hábito na cidade fazer roupas novas para começar o ano na missa de São Benedito. .Acordei com a alvorada na Voz Paroquial. Aquelas músicas sacras no alto falante, no ápice da torre da igreja, acordava a população. Encheu meu coração de emoção. A missa parecia um desfile de modas. O que mais me impressionou foram os olhares perscrutadores de novidades. Fazia mais de ano que eu não voltava à cidade. Senti que estava sendo observada. .Ao final da missa, minha colega de Grupo Escolar e também de Ginásio, em São Luís, veio ao meu encontro. Chiquita Bezerra, minha amiga de infância e adolescência: “Mulher tu tá arrasando”! Viu só os olhares dos rapazes! .Voltei com a família para a Trisidela. Mamãe tinha feito peixe pescado por meu pai. Moqueca de Curimatá com arroz e farinha d’água. Matei as saudades da comidinha feita com tanto carinho. Ao final da tarde, o pessoal foi à procissão. Preferi descansar para ir ao baile à noite. Eu completaria 18 anos em maio e aquele seria meu primeiro baile. Já fora a outros antes e aprendera a dançar com meu cunhado. Chegando ao clube, Ataíde procurou uma mesa. Logo seu Hemetério, pai de minhas colegas de grupo escolar, Maria Amorim e Maria Luisa, me convidou para dançar. Perguntou se eu ainda estava estudando em São Luís... A seguir outro conterrâneo me solicitou a dança, mas, começou a me apertar de um jeito anormal. Eu estava constrangida sem saber o que fazer... Então, chega meu salvador. Bate no ombro do cavalheiro e... O amigo me permite? .- Que alívio? Dançamos o baile inteiro. Ele me contou que estava admirado com a minha transformação e a diferença de quando me viu nas aulas do exame de admissão que o pai dele ministrava e na formatura do quinto ano. Que já me observara na missa e que estava à janela e não gostara de me ver sem graça dançando com o engraçadinho. Ele também tinha olhos azuis! Com o vestido da Festa de São Benedito fiz a foto para a primeira carteira de identidade. .Praia do Anil, Magé-RJ 07 de julho de 2020 Benedita Azevedo Publicado por Benedita Azevedo em 08/07/2020 às 22h56
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