10/07/2020 23h39
Histórias e fotos - capítulo III
Capítulo III – O penteado Após a festa de São Benedito, em Itapecuru Mirim, em 1962. Naquela noite em meu primeiro baile, cinco meses antes de completar dezoito anos, e ouvir declarações de apreço de um admirador, que me conhecia da época de Grupo Escolar Gomes de Sousa, tatuadas na memória até hoje... voltei para São Luís no primeiro ônibus da segunda feira. Seguindo uma rotina de trabalho das sete as doze e de catorze as dezessete e trinta, resolvi fazer o curso de datilografia, em frente à loja, das dezessete e trina às dezoito e trinta. A seguir embarcava no bonde no Ferro de engomar, na Praça João Lisboa e ia para o Colégio São Luís. As aulas terminavam às vinte e duas horas. Eu voltava de bonde para casa à Rua Raimundo Correia, no Monte Castelo, onde morava com minha tia Santana, prima de meu pai, seu esposo, Raimundo Vale e os filhos: Sônia Maria, Ana, José Raimundo e Vera. Sempre preocupada com os afazeres da minha rotina diária, após as palavras de meu pai e de Antônio que eu estava bonita, passei a prestar mais atenção em mim. Percebia os olhares dos funcionários da loja e em especial do patrão. Cheio de cuidados comigo, resolveu que eu ficasse com uma cópia da chave da loja para não esperar na porta, quando chegasse antes dele. Isso me deixou meio desconfiada. Pois percebia olhares furtivos que me deixavam sem graça. Mas, sempre respeitosos. Em março faria um ano que eu trabalhava na Casa Xavier, à Rua de Santana, ao lado da agência de embarque do ônibus para Itapecuru. A inquietação inerente à minha personalidade desde a infância, nadando, pescando, subindo nas árvores para comer frutas no pé, me levou a exercer, neste ano de trabalho, várias funções: balconista, no caixa e por último no escritório. Segundo o gerente, ninguém conferia os talões dos caixas das três lojas, mais rápido que eu. Nunca reclamei de nada, só queria ao final do mês, ter o suficiente para minha manutenção sem dar despesas a meus pais. Era de bem com a vida. E talvez por isso, aprendia tudo com rapidez. Em um dia de Março, de supetão, o patrão disse que estava apaixonado e que queria casar comigo. Levei um susto. Depois de muitas explicações, minha saída e volta para a loja, ele conseguiu me convencer de que seus sentimentos eram reais. Resolvi continuar na loja, com a condição de chegar um pouco mais tarde, após todos os outros funcionários. Após a festa de São Benedito não voltei a Itapecuru. Estava com saudades da família. Queria aproveitar a Semana Santa para descansar um pouco, nadar e matar as saudades da relação de amor com meu rio, desde os seis anos. Queria viajar na quinta feira após a loja fechar ao meio dia. Mas, o patrão me dispensou e fui de ônibus, na quarta, dia 18 de abril, de 1962, ao final do trabalho. Contei a meus pais a proposta de casamento que recebera. Eles acharam esquisito e queriam que eu voltasse para casa. Foi um drama... Todos os problemas contornados, casamos dia 04 de agosto de 1962. Tivemos um filho e uma filha. Ele tinha dezessete anos mais que eu. Muito ciumento o que nos criou muitos problemas. Mas, o amor era imenso. Em 1967, cinco anos após o casamento ele desenvolveu uma tuberculose renal e descobrimos que seu rim direito estava parado e precisava ser retirado, mas, antes teria de tratar a tuberculose que já atingira a bexiga. Ele era português, sem família no Maranhão e quis mudar para São Paulo onde ficaria mais perto dos irmãos: três em São Paulo, um em Santa Catarina e outro no Paraná. Mudamos para São Paulo em novembro de 1967. Após cinco meses, em abril de 1968, convidado por um irmão, ele optou por ir para Blumenau, uma cidade menor, onde permanecemos até o final de 1969. Ao final, mudamos para Itajaí, onde ele pensava fosse melhor para seu comércio de armarinho e confecções. Eu só o seguia. Ele conseguiu montar a Casa Portuguesa. Mesmo em tratamento era um entusiasta. Fez a cirurgia, recebeu alta e parecia bem. No inicio de 1971 teve um AVC que o deixou inválido. A loja dando os primeiros passos não teve como se continuar. Foi liquidada. Em 1971, aos 27 anos, assumi minha família, sozinha. Voltei a estudar. À época, o Madureza estava na moda. A lei 4.024, de 21 de dezembro de 1961, garantia aos alunos estudarem em casa e fazer as provas em uma instituição de ensino pública. Em julho de 1971, eliminei todas as matérias do 1º ciclo. Em dezembro de 1971 fiz as provas no Colégio Normal Pedro II em Blumenau e eliminei as matérias do 2º ciclo: Português, História Geografia, Educação Moral e Cívica e sociologia. Faltava uma língua e Filosofia. Em agosto, ao fazer a inscrição soube que fora acrescida OSPB. Consegui eliminar as três. Em um ano, estava pronta para realizar o sonho de fazer Direito. Esta foto foi feita no Centro de atividades do SESI, que ficava à minha passagem, perto de casa, à Rua Silva em Itajaí. A coordenadora nos ofereceu a sala para algumas aulas de Filosofia, ministradas por um amigo de um dos alunos. A L’oréal estava oferecendo um curso de pintura e penteados. A coordenadora nos convidou como voluntárias, para que as alunas nos pintassem e penteassem os cabelos. Era uma foto coletiva onde as modelos tinham de sorrir, pois seria publicada na revista. Eu recortei. Praia do Anil, 09 de junho de 2020 Benedita Azevedo.
Publicado por Benedita Azevedo em 10/07/2020 às 23h39
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