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Letras e Sentimentos

Meu Diário
26/07/2020 17h27
Histórias e fotos – capítulo VI

O vestibular e o sonho

1971-1972 dois anos de muita pressão psicológica, um super esforço intelectual, idas e vinda com o marido para o hospital, mudanças de planos, reconstrução de objetivos e a manutenção da família, me levaram a engordar 10 quilos. Tirando as roupas perdidas, não me preocupei com isso. Estava saudável fisicamente.

Ao concluir o Clássico em julho de 1972, foi um peso que me saiu dos ombros. Sem ele eu não conseguiria dar um passo à frente. Após fazer as últimas provas dia 7 de julho, comecei a estudar os conteúdos que poderiam entrar no vestibular.

Não queria me preocupar com matemática, física e química, pois não teria tempo de assimilar os conteúdos. Seria necessário reforçar as matérias da área humanística com peso maior na contagem de pontos. Mesmo assim assisti às aulas do cursinho.

Nesse espaço de tempo aconteceram coisas boas que me surpreenderam. Recebi convites de alguns cursos preparatórios do madureza, para contar aos alunos como eu tinha conseguido fazer os dois ciclos em um ano, fazendo todas as provas dos dois? Eu levava os certificados, os professore conferiam as datas das provas... A única explicação era a dedicação aos estudos e determinação de vence ou vencer. Eu não tinha outra opção.

Tendo feito um curso de Parapsicologia, na última semana de setembro de 1971, divulgado por um dos professores que nos ministraram aulas no salão paroquial, até acreditava que seria uma missão. Mas, a missão mais concreta que eu tinha pela frente era cuidar dos filhos e lhes dar bons exemplos.

Ao final daquele curso fizemos um teste vocacional. Meu resultado, “Literatura e artes em geral” me fez quebrar aquela cisma de fazer Direito. Coloquei-o em segunda opção e Letras em primeira, na inscrição do vestibular.

Continuei as aulas, agora com a matéria da Educação Integrada. Aquele grupo até parecia comigo. Iniciamos em agosto. Os alunos pretendiam terminar em fevereiro, pois se eu passasse no vestibular, eles não queriam outra professora.

Minha responsabilidade ficava maior. Combinamos tentar fazer as matérias do primeiro semestre até a primeira quinzena de novembro. Se conseguíssemos, faríamos o resto até fevereiro. Só não valia eles torcerem para eu não ser aprovada no vestibular!

Meus filhos fariam a primeira comunhão em outubro. Eu precisava providenciar as roupas. O dinheiro estava curto. Eu tinha dois novelos de linha cleia branca em casa. Resolvi fazer o vestido da Jane em crochê. Arte aprendida com minha professora do 3º e 5º anos do primário, no Grupo Escolar Gomes de Sousa, em Itapecuru Mirim, Dona Francisca Rodrigues.

Quando chegava das aulas de Educação integrada, às 21:30 sentava-me para ver televisão e fazia o crochê. Fiz o vestido e as meias. Ficaram lindos. Em um final de semana fiz a roupa do Rogério. Eu não contava com ninguém. Longe da terra natal, da família, lutando para sobreviver dignamente, sem depender de ninguém.

Não permitia que nada negativo se sobrepusesse à minhas atividades. Lição aprendida no livro “O caminho da felicidade” de Humberto Rohden, lido na década de reclusão pós casamento.

Enfim, chegou a semana do vestibular.

Os filhos fizeram a primeira comunhão e já estavam de férias. Saí só com duas canetas, um lápis e uma borracha. A primeira prova era a de português e Literatura, as matérias que mais me dedicara, até por conta das aulas da Educação Integrada, que eu ficava pesquisando nas gramáticas, a maneira mais fácil de passar aos alunos.

Achei que me saí bem. As provas das matérias que eu estudara para o Clássico eu fiz bem. Matemática até consegui fazer alguma coisa. Mesmo as de Química e Física respondi algumas questões básicas, resultado das aulas que assisti como ouvinte no primeiro ano científico, no Colégio São José e nas aulas do cursinho, oferecido pelo Diretório acadêmico.

Aguardemos os resultados!

Esta foto era do crachá da escola. Os professores da Educação Integrada que não eram da Unidade Escolar tinham de se identificar na portaria.


Publicado por Benedita Azevedo em 26/07/2020 às 17h27
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