26/07/2020 17h40
Histórias e fotos – capítulo VII
Resultado do Vestibular Desde meados de 1970, quando meu marido teve o AVC, comecei a ir com ele para a loja. Consequentemente, com o espírito que tenho não ia ficar só de coadjuvante. Percebendo que ele não era mais aquela pessoa atenta aos mínimos detalhes, fui discretamente assumindo a direção das coisas. Não que eu tivesse planejado, mas foram acontecendo. Desde então, com a necessidade de tempo para cuidar da loja, da família e da minha formação, já prevendo o final insustentável da loja, dormia sempre após a meia noite, uma, às vezes duas da manhã, para está de pé às seis e trinta. Esse hábito adquirido naquela época me acompanha até hoje. Cinco seis horas de sono são suficientes. Só pude fazer tudo isso pela situação geográfica da minha casa, que, em relação aos locais de trabalho, estudo e colégio dos filhos ficava a dois quarteirões, em direções diferentes. Chegou o tão esperado dia do resultado do vestibular. Só não estava mais ansiosa, por não ter tempo de pensar no assunto. As responsabilidades eram grandes. Seria no ginásio de esportes, já não me lembro o nome, mas como disse Bashô, isso não é importante e sim o que aconteceu naquele dia. Saí de casa cedo para receber os resultados. Nunca soubera do trote dado aos calouros pelos veteranos. Os resultados de Direito foram lidos primeiro. À medida que eram anunciados, os aprovados se dirigiam ao centro da quadra. Ali as mulheres tinham as unhas cortadas e os homens a cabeleira tosquiada. Eram 150 vagas, fui classificada em 48º lugar, mas, como minha primeira opção era Letras, poderia descer após a leitura dos classificados em meu curso. Festejei muito. Mesmo que não fosse classificada em Letras, iria fazer Direito. Pareceu-me muito lenta a leitura após minha classificação. Finalmente os classificados em Letras foram nominados. A leitura era do último para o primeiro. Quando chegou ao trigésimo fiquei apreensiva. Acreditava que seria classificado entre os últimos, o que para mim estava muito bom. Chegou ao vigésimo, e nada. O coração acelerou um pouquinho, já me via fazendo a matrícula em Direito. Décimo lugar... Benedita Silva de Azevedo. Naquele momento, respirei fundo e desci para receber o trote que seria duplo. Tive as unhas cortadas e tomei um banho de tinta. A alma estava leve e o coração descompassado, mas, cheio de alegria, como nunca estivera antes. Cheguei a casa e todos ficaram assustados. Tive que explicar que conseguira classificação em dois cursos e era o costume das faculdades dar trotes nos novatos. Além disso, eu teria de andar com o boné azul dos calouros durante todo o ano. Se não o fizesse pagaria multa. Esta foto é da carteirinha do primeiro ano de letras, da FEPEVI – Fundação de Ensino do polo Geoeducacional do Vale do Itajaí - 1973. Hoje Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Poesia da I Fase Saudades I Quantas saudades eu tenho! Do tempo que longe vai Da casa cheia de sonhos Da vivência com meu pai. Às vezes fico pensando Quantos sonhos lá ficaram Daqueles bosques tão lindos Meus pensamentos voaram. Andaram longas estradas Vagaram por este país Coloquei o sonho em prática Fui dependente e feliz. Hoje perdida no tempo que no passado ficou só trago muita saudade da lembrança que restou. Das lindas flores que havia Naquelas plantas selvagens, Brancas, lilás, amarelas, Em meio a verdes folhagens. . Longe a perder de vista Vislumbrava o coqueiral Aquela planta nativa Nascia desde o quintal. O sabiá logo à tardinha No seu dobrado saudoso Enchia-me de alegria Ai, que tempo venturoso! Entre a mata e o mar do Anil Não vejo mais as palmeiras Moro agora em outro extremo Destas terras brasileiras. São Luís, MA, 05.10.65 Editado em 01/05/06 Praia do Anil, 15 de julho de 2020 Benedita Azevedo. Publicado por Benedita Azevedo em 26/07/2020 às 17h40
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