26/07/2020 18h25
Histórias e fotos – capítulo XI
Fui parar no hospital Durante todo o ano de 1974, viajei para São Paulo, uma vez ao mês para comprar roupas e revender em Itajaí. Com isso mantive as prestações da casa em dia e construí um quarto de 4x4 para área de serviços, uma lavanderia e troquei a cerca de madeira da frente por um muro de tijolos. Fizemos um gramado em toda frente e plantamos roseiras. A Casinha ficou linda. 1975 foi um ano pesado. Meu marido vendo a minha correria misturou suas angústias. A de me ver trabalhando tanto, as sequelas da meningite que tivera aos 18 anos, as do AVC e começou a ficar agressivo, reclamando de tudo... Caiu numa depressão brava. Precisou ser internado, onde passou sessenta dias. Fazia parte do tratamento, a família visitá-lo duas vezes por semana, um esforço dantesco, para minha rotina de trabalho e estudo. A clínica era em Florianópolis. Íamos uma quarta, outra não e todos os sábados, de ônibus, eu e as crianças. Passávamos uma hora com ele e voltávamos. O domingo ficava apertado para preparar as aulas da semana. No inicio do ano, consegui transferência para a Escola João Duarte, que ficava ao lado do conjunto. Assim, não pegaria condução. Pude escolher lecionar nas quartas séries. Em reunião com a diretora e a professora da outra 4ª série, sugeri dividir as matérias. Eu daria as aulas de Português e Estudos sociais nas duas turmas e Irene daria as outras matérias. Assim, diminuiríamos a diversidade de assunto na hora de preparar as aulas. A diretora e Irene acharam a ideia boa, mas teriam de pedir autorização na Secretaria de Educação. D. Onadir Tedeu, achou a ideia boa e deu a autorização. Ao final do Ano, cada uma assinava sua turma. O importante seria o aproveitamento dos alunos. A experiência foi tão boa que passou a ser norma nas escolas que tivessem mais de uma turma de quarta série. Ao sair do hospital, meu marido resolveu tentar um trabalho em São Paulo, onde tinha três irmãos. Passou lá quatro meses. Naquele período, um dia passei mal na escola. Ao medir a temperatura estava com 40º de febre. A única professora que tinha carro trabalhava no turno da tarde. A zeladora me pegou pelo braço e saímos andando até o hospital, que ficava a três quilômetros. Eu teria de ficar internada. Pedi que a zeladora avisasse as crianças para dormirem em casa da vizinha. Passado algum tempo a assistente social foi até meu quarto com eles. Os dois se atiraram para mim, desesperados. Falei que estava bem, só precisava fazer alguns exames. A Assistente social perguntou se tinha algum parente para avisar. Os dois se anteciparam. Não precisamos, nós vamos para a casa da D. Aurenir. Expliquei que era minha amiga que morava ali perto. Os dois despediram-se e saíram. Em pouco tempo, minha amiga chegou... - Oh, mulher! Como é que você não me avisa? – Não deu tempo. Vim direto da escola com muita febre. Pensei que tu estavas na escola. - O médico disse que tens de operar logo. Estás com um cisto enorme no ovário. Mas, segundo ele é uma cirurgia rápida. Será amanhã cedo. Passo aqui quando sair da escola. Agora vou com teus filhos pegar roupas e o material da escola. Queres que avise teu cunhado? - Não, vamos ver como fico após a cirurgia. Após 48 h, já operada voltei para casa. Precisava ficar em repouso por 30 dias. Receberia somente os proventos do primário. Em quinze dias voltei ao médico para fazer uma avaliação e ver se poderia voltar a trabalhar. Fui liberada para trabalhar um só turno. Voltei às quintas séries e mais duas semanas, para o primário. Diante de tantos problemas comecei a pensar que seria melhor voltar para o Maranhão. Mas, só após terminar a faculdade. Assim voltaria com uma profissão e poderia trabalhar em qualquer lugar. Mas, a vida tinha de continuar. Amílcar, não aguentou muito tempo em São Paulo. Voltou todo desajustado. Mais uma vez foi internado. Então, em um hospital próximo de casa. Podíamos visitá-lo todos os dias. Foi um período muito difícil. Mesmo assim, Aurenir, minha amiga pernambucana e o marido, donos de uma vidraçaria resolveram fazer um período de experiência de 3 meses e assinaram a carteira dele, quando saiu do hospital. Não deu certo, mas, aquele pequeno período serviu para retomar o INPS que estava sem contribuição desde o fechamento da loja, havia três anos. O psiquiatra e o neurologista deram um atestado dizendo que ele não tinha condições de trabalhar. Com isso foi encostado pelo INPS, recebendo meio salário mínimo. Mais uma vez resolveu que queria voltar para São Paulo. Lá convenceu os irmãos de que se voltasse para São Luís conseguiria retomar seus negócios. Os irmãos lhe compraram a passagem e ele foi. Mas antes, passou em Itajaí para comunicar que estava voltando para onde nunca deveria ter saído. Naquele momento, não tive argumentos para detê-lo. Mas, também, não me arriscaria pelo mundo com meus filhos, outra vez, sem nenhuma perspectiva. Uma aventura sem precedentes. Até já pensara nisso, mas teria de terminar o curso de Letras antes. Continuei o mesmo ritmo de trabalho. Mas, aquela história de pagar uma prestação da casa durante 25 anos me incomodava. Um dia, voltando da Escola municipal João Duarte, ao lado do conjunto vi uma placa de venda, em uma casa de madeira de 14x6, com três quartos, sala de visita, sala de jantar, a cozinha e o banheiro eram de alvenaria. O piso de tábua corrida dava para se espelhar. Olhei tudo e perguntei o preço. Era 14.000,00 para retirar do local, pois a proprietária ia construir outra casa em alvenaria. Perguntei se tinha que desmanchar a casa e levar o material. Ela disse que não, que havia uma firma especializada para levá-la e deixava pronta para entrar e morar. Fazia a base de alvenaria, a cozinha e o banheiro. Eu teria de comprar um terreno. Esta foto é igual a da carteira de estudante do ano anterior. Eu tinha uma guardada. Publicado por Benedita Azevedo em 26/07/2020 às 18h25
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