01/08/2020 21h46
Histórias e fotos – capítulo XII
Mudança de casa (eram tantas prestações)! Aquela casa de madeira, com um quarto para cada filho, o que eu já queria separar a algum tempo, a menina estava crescendo e precisava de privacidade. Aquela sala, aquele piso e ainda a possibilidade de sair da prestação muito prolongada! Ao entrar em casa fui direto fazer as contas. Resolvi que não ia ficar atrelada ao pagamento de uma prestação por 25 anos. Fui até a imobiliária e coloquei nossa casinha a venda. No dia seguinte apareceu um casal interessado. Em dois dias deu a resposta. Ia ficar com a casa. O negócio foi fechado. Pedi 30 dias para mudar. Fechei o negócio com a casa de madeira, eu disse que precisava levá-la em 15 dias. A dona disse que eu poderia retirar imediatamente. A casa de madeira custou dois terços do valor de venda da casa. Pedi ajuda à imobiliária para encontrar um terreno que fosse perto da igreja. Encontramos um loteamento novo. Dei uma entrada e assinei vinte promissórias de 500,00. Mas, precisava de aterro. Procurei alguém que o fizesse. Somente a prefeitura poderia fazê-lo. Não sabia qual a razão. Procurei a D. Onadir, Secretária de Educação e contei a história. Ela foi comigo falar com o prefeito. A Secretaria de Educação funcionava no mesmo prédio da prefeitura, dois andares abaixo. - Com licença, bom dia! O Senhor lembra-se da professora que fez a recuperação do seu filho quando estudava no Colégio São José? - Lembro, graças a Deus ele engrenou. Já vai para o ginásio. - Que bom! Pois ela agora está precisando de um serviço que lhe disseram, somente a prefeitura pode fazer. - O quê? Então expliquei a situação. Ele disse que aquele loteamento era da família dele e que o meu tinha sido o primeiro a ser vendido, antes do aterro. Mas, que seria feito, imediatamente. De posse do local aterrado eu ainda teria três semanas para entregar a casa. Procurei a firma que fazia a mudança. O funcionário prometeu entregá-la em duas semanas, pronta para morar. O transporte poderia ser qualquer dia, durante a madrugada, para não atrapalhar o trânsito. Eu e as crianças fomos assistir aquela atividade que para nós era um espetáculo à parte: macacos hidráulicos levantaram a casa e colocaram sobre uma prancha com rodas puxada por um trator. Sobre a prancha iam homens que levantavam os fios atravessados na rua, com uma vara em forma de T. Fomos até a Igreja matriz e voltamos para o conjunto. Início de 1976 com a mudança para a nova casa, recém pintada com tinta óleo azul claro, eu ficava preocupada em deixar os filhos sozinhos enquanto ia para a faculdade. O loteamento era rodeado de casas, mas, o nosso terreno era na segunda rua projetada e era a primeira. Felizmente aquele seria o último ano do Curso de Letras. Na faculdade, uma colega de turma, sabendo que eu estava morando em uma casa com três quarto, perguntou se eu alugaria um, para sua amiga que chegara da Bahia. Ela foi conversar comigo. Era funcionária pública que ia ficar pouco tempo. De seis meses a um ano. Ela aceitou pagar um salário mínimo pela moradia com alimentação. Assim as crianças não ficariam sozinhas à noite, enquanto eu estivesse na faculdade. A vida me colocou constantemente à prova de maneira muito dura. Mas, forjada na temperança de saber que só eu seria a responsável pelo meu sucesso ou fracasso, com dois filhos para educar, não perdia tempo com lamentações. Eu resolvia o que tinha para resolver. Agora, a casa com poucas prestações do terreno para pagar, último ano da faculdade, estava na hora de pensar em voltar. Eu precisaria ir a São Luís verificar se havia possibilidades de trabalho. Se poderia conseguir melhores rendimentos com a graduação em Letras ou se ficaria em Itajaí e faria especialização em uma das áreas: Português, Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa ou Linguística. Precisaria economizar o dinheiro das passagens. Iria durante as férias de julho. Começamos a receber cartas do marido pedindo para voltar. Eu preferia que ele aguardasse lá. Em julho resolveríamos o que fazer. Mas, recebemos uma carta de um conterrâneo dele relatando que estava muito doente. Andando na rua metera o pé em um buraco e machucou a perna, e que, o machucado se transformara em erisipela. Os portugueses amigos do tempo do comércio conseguiram internação no Hospital Português. Mas que ele chorava muito com saudade dos filhos. Era maio de 1976. Resolvemos que nesse caso ele deveria voltar logo. Quando chegou teve de ser apoiado por duas pessoas para sair do táxi. Doía tudo. Foi levado para a cama. Abraçou-me e chorou muito. Pediu perdão por nos ter levado de São Luís para uma vida incerta e agora não podia mais recuperar nada. Consolei-o dizendo que já tínhamos aquela casa espaçosa, que eu já terminaria a faculdade ao final daquele ano e conseguiria um trabalho melhor remunerado. E que eu iria a São Luís em julho, sondar o campo de trabalho. As crianças chegaram da escola e foi aquela alegria. Principalmente da menina. Era uma sexta feira, então teríamos o final de semana para conversar. Ele contou que se hospedara em um hotel de um conhecido. Que um amigo que acolhemos quando chegou de Portugal intimou-o a levar suas roupas para serem lavadas em casa dele e que passara dois meses internado no Hospital Português. Perguntei como tinha sobrevivido com meio salário mínimo? Ele contou que ainda tinha dois terrenos no Olho D’água que nem lembrava. O corretor o encontrou na rua e disse para ele passar na imobiliária para legalizar as escrituras. Ele vendeu um terreno. Queria começar um pequeno negócio, mas, adoeceu. Teve de gastar parte do dinheiro, mas, ainda tinha o suficiente para eu ir em julho a São Luís. Ele queria nos levar de volta para o Maranhão. Lá ele tinha muitos amigos. Eu já estava pensando nisso. Agora estava decidido. Mas, sem depender de ninguém. Maria José, nossa hóspede, se entendeu bem com meus filhos. Ela era alegre e brincalhona. Em conversa sobre minha viagem ela sugeriu que eu fosse sozinha. Com a chegada do pai, decidimos que seria melhor as crianças ficassem com ele. Eu passaria duas semanas. Foto recuperada do título de eleitor. Publicado por Benedita Azevedo em 01/08/2020 às 21h46
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