Haicai, Verso e Prosa

Letras e Sentimentos

Meu Diário
01/08/2020 21h51
Histórias e fotos - capítulo XIII

Volta ao Maranhão

Antes das férias fui visitar D. Onadir Tedéu, que se tornara minha conselheira. Falei que ia ao Maranhão ver as possibilidades de trabalho. Pois meu marido voltara e queria que fôssemos todos para São Luís.

A Secretária de Educação deu-me as recomendações necessárias para quem pretendesse conseguir um trabalho no magistério. Ela sugeriu que eu pegasse declarações dos colégios onde lecionei, desde o MOBRAL, o SESC e fizesse um currículo. Argumentei que seria melhor fazer ao final do curso de Letras já com o diploma. Ela disse que não. Seria melhor levar logo. Providenciei toda a documentação, inclusive, todos os certificados de cursos de extensão universitária que comecei a fazer, antes da graduação, aos finais de semana. Eu não perdia um.

Escrevi para minha irmã que mora em São Luís, avisando que passaria duas semanas no Maranhão. Ela marcou com os familiares um encontro em Itapecuru Mirim. Seria um reencontro após nove anos. Na verdade, catorze anos longe da minha gente e do meu querido Rio Itapecuru.

No sábado saímos cedo. Era uma hora de viagem. Na entrada para nossa casa, antes da ponte de tábua, paramos para cumprimentar o primo, Zequinha Matias e a Esposa Maria José, que estavam à porta. O reencontro foi uma grande alegria. Estava tudo diferente. Tanto em São Luís quanto em Itapecuru.

Após os abraços, a choradeira e as notícias de quem não estava presente eu queria nadar no Rio Itapecuru. Era uma saudade tal se fosse uma pessoa. Mamãe quis ir junto. Fomos todos para o Rio. Eu queria atravessá-lo. Mamãe pediu que Francisca me acompanhasse. Consegui chegar do outro lado, mas, bem ofegante. Estava fora de forma.

Andamos uns 100 metros rio acima para voltar com mais tranquilidade. Chegamos bem perto de mamãe. Ela disse que eu me saí bem. Francisca, uma das minhas irmãs, confirmou que eu me cansara um pouquinho na ida, mas na volta estava tranquila.

O almoço feito no fogão a lenha, naquelas panelas de ferro grandes, o cheiro da lenha queimando misturado com o do tempero de mamãe, no frango ao molho pardo e da moqueca de Curimatá, foram se espalhando pela casa e despertando meus sentidos e sentimentos. Realmente as saudades eram grandes.

No domingo fui visitar os parentes da Trizidela. Tio João e Dona Francisca. Depois tia Donana (Ana), que me fez prometer, pelo menos tomar um lanche, com ela antes de viajar. Ao voltar para nossa casa minhas irmãs estavam assando castanhas de caju. Senti o cheiro de longe.

Ficamos lá o final de semana. Nem saímos da Trizidela. Meu cunhado tinha de trabalhar na segunda feira. Voltamos todos no fusquinha branco. Minha irmã com o marido, os três filhos eu e Iracema.

Eu ainda teria uma semana para visitar alguns colégios. Mas, resolvi começar pela Secretaria de Educação. A recepcionista perguntou o que eu estava procurando. Falei que era maranhense de Itapecuru Mirim, casada com o ex dono da Casa Xavier. Que estava terminando o Curso de Letras e pretendia voltar. Queria saber se tinha algum concurso para professores em previsão? Ela me encaminhou para a sala de coordenação. Quando entrei, a senhora me olhou e levantou-se rápido.

- Espera aí, você é a Benedita, irmã da Maria Copia?

- Você é Raimundinha Ferraz?

- Sou Raimunda Bulhões, me chamavam assim porque eu morei com a família Feraz uns tempos.

Então contei a minha história, mostrei os certificados todos. Ela examinou tudo, abraçou-me e disse que eu chegara na hora certa. Estavam fazendo as inscrições para o concurso de 1977. Eu poderia levar os documentos, só precisaria da declaração que eu estava cursando o 4º ano de Letras.

Falei que eu voltaria para Santa Catarina dali a uma semana. Ao concluir o curso em mudaria de vez. Ela disse que eu precisaria estar em São Luís até o final de janeiro.

Aproveitei para pedir informação sobre os colégios particulares. Ela disse que os que pagavam melhor eram: O Marista, o Batista, Dom Bosco e Santa Tereza. Mas, que também tinham muitos colégios onde um professor de português lecionar. Inclusive o Colégio La Roque, de Benedita Lopes, nossa conterrânea e colega de Grupo Escolar Gomes de Sousa, onde ela dava acessória pedagógica.

Saí dali com o coração leve. Era como eu imaginara. Com uma graduação eu sobreviveria com meus filhos de maneira digna, em qualquer lugar.

Eu estava pertinho, fui ao Marista. O porteiro me levou até a secretaria. A senhora que me atendeu, ficou me olhando. - Você me desculpa, mas não é a Benedita Matos da Silva que estudou no Colégio São Luís? - Sou e você, quem é? – Sou a Marinete. Nós estudamos juntas no 5º ano, depois você transferiu-se para a noite.

Mas, você não tinha ido embora para o Sul? – Sim, mas estou de volta e quero trabalhar aqui. - Para fazer o quê? - Dar aulas de Português. - Você fez Letras? - Estou fazendo. Termino este ano e quero voltar. - Você tem de vir depois das férias. Os irmãos estão todos viajando. – Voltarei em Janeiro.

Saí dali com a certeza de que tudo iria dar certo. Não precisaria ir mais a nenhum colégio. Até porque todos estavam de férias. Desci a Avenida Rio Branco. O Colégio São Luís estava fechado. Muito diferente! Em lugar da entrada espaçosa onde os alunos conversavam em grupos, ergueram um prédio estranho.

Fui até a igreja dos Remédios onde tantas vezes rezei e confessei. Saí e andei pela Praça Gonçalves Dias. Olhei a Estação Ferroviária e o mar. Sentei ao pé da estátua do grande poeta e relembrei as aulas de Português do professor Araujo.

Voltei para a casa da minha irmã na COHAB. Agora poderia usar o resto do tempo para visitar os amigos e parentes.

Fiz uma visita aos amigos Santos e Tilma, na Rua de Santana, aos compadres Walter e Vilma Abreu, padrinhos de Rogério, na Rua do Egito e ao Sr. Resende e Dona Micas, na Av. Maglhães de Almeida, padrinhos de Jane. Que se colocaram à disposição caso precisasse de alguma coisa, quando voltasse!

Conheci também a nova residência de Dona Santinha (Anozilda do Santo Fonseca) Minha primeira professora no Grupo Escolar Gomes de Sousa, sogra da minha irmã, Raimunda. Que moravam no mesmo bairro.

Voltamos para Itajaí, ao final daquela semana. Eu e Iracema, uma colega da Escola Municipal João Duarte, que me acompanhou na viagem e todas as visitas, à Secretaria de Educação e ao Marista.

Repeti a mesma foto, apenas mudei um pouquinho a cor.


Publicado por Benedita Azevedo em 01/08/2020 às 21h51
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