Haicai, Verso e Prosa

Letras e Sentimentos

Meu Diário
18/08/2020 21h22
Histórias e fotos- capítulo XIV

Julho de 1976. Ao retornar do Maranhão encontrei o marido e os filhos felizes e com uma surpresa. Amilcar mandara fazer o muro da frente e a calçada ao redor da casa. Ele saiu com os filhos para fazer compras e realizou todos os desejos deles. A Maria José fez bolo e tudo na minha volta.

Contei as novidades sobre a viagem e todos ficaram animados. Prenúncio de um semestre cheio de trabalhos, mas, com objetivos certos. Visitei Dona Onadir Tedéu que também vibrou, principalmente, pela possibilidade do concurso para professores. Lamentou me perder como profissional da educação.

Visitei minha amiga pernambucana e contei que voltaria para o Maranhão ao final da faculdade e que venderia a casa para entregar as chaves quando viajasse. Ela prometeu divulgar nas escolas. Aproveitei o resto das férias para concluir a área de serviço nos fundos da casa que ficou pronta e bonita.

Início do segundo semestre. Volta às aulas do primário e do ginásio. As aulas para o estágio. Organização da formatura. Aprovação da beca e algumas substituições de professores.

Enfim, a reta final da graduação em Letras. Às vezes nem eu acreditava que conseguira. Foram tantas barreiras ultrapassadas. Tantas responsabilidades! Mas sempre com um objetivo a seguir. Tantas noites insones fazendo trabalhos extras para complementar o orçamento. Uma vida de luta cheia de altos e baixos, mas, estava a um passo do ponto pré-estabelecido há seis anos.

O problema da erisipela na perna do Amilcar se agravou. Levei-o para o hospital. O médico disse que era uma doença difícil de debelar. Passou dois dias até a febre passar. Os remédios para essa doença eram antibióticos muito caros. Ele não poderia ficar sozinho. Precisei tirar uma licença de 30 dias para cuidar dele. Não receberia o salário do ginásio.

Telefonei para Ramiro, irmão do Amilcar comunicando que ele estava de volta e muito doente. Ele perguntou se eu estava precisando de alguma coisa. Falei que se ele pudesse ajudar com os remédios do irmão eu agradeceria. Só enquanto eu estivesse de licença sem remuneração no ginásio. Ele disse que telefonaria para os irmãos e me enviaria o salário que não recebi.

Em outubro, a turma de 3º ano de Letras, como era tradição, ofereceu um jantar de despedida aos formandos.

Afinal tudo pronto. A colação de grau aconteceu dia 10 de dezembro. No dia 11 o baile de formatura. Como pretendia estar em São Luís antes do dia 30 de janeiro, tive de correr para conseguir a documentação, o registro do diploma e a carteirinha do MEC.

Dia 04 de janeiro estava tudo pronto. O que algumas pessoas consideravam quase impossível. Deu muito trabalho. Estive em Florianópolis quatro vezes, em duas semanas. Consegui tudo sozinha, sem pistolões.

O meu argumento era que eu precisaria está no Maranhão, em janeiro, com toda documentação para fazer o concurso do Estado e começar a lecionar português nas escolas particulares.

A casa que já estava apalavrada com um comprador não deu certo. Tinha sido avaliada em 100.000,00 e ele ofereceu 45, argumentando que eu não teria tempo de vendê-la por mais.

Não aceitei. Fui à Secretaria de Educação oferecer para o pessoal. Ninguém estava precisando. Fui até o colégio São José. Falei com a Irmã Adelina, a diretora. Contei tudo. Que tinha um concurso a fazer em janeiro. Ela saiu e voltou com a professora Lenir, da quarta série. Tinha sido professora do Rogério.

- Conta para Ela o que acabou de me falar!

- Dona Benedita, é incrível! Eu tinha acabado de dizer à irmã que estou procurando uma casa para deixar de pagar aluguel. Eu posso ver sua casa? – Claro!

- Irmã vamos lá? Eu lhe trago de volta. Só queria a sua opinião. Disse a professora.

Mostrei a casa. As duas nem acreditavam que a casa fosse tão boa! A professora tinha exatamente o valor da avaliação. Mas, teria de fazer a documentação. Como eu ainda devia 10 parcelas do terreno negociamos. Ela me pagaria 95.000,00 e assinaria 10 promissórias do terreno, diretamente ao escritório do loteamento.

Agora sim, poderíamos quitar todas as nossas pendências, contratar a mudança, comprar as passagens e partir de volta à terra natal.

Estas fotos são da missa e colação de grau do curso de Letras, em 10 e 11 /12/1976. Éramos 30 alunos, somente três homens!


Publicado por Benedita Azevedo em 18/08/2020 às 21h22
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