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Letras e Sentimentos

Meu Diário
14/10/2020 21h44
Histórias e fotos – capítulo XVIII

A casa inundada

A doença do marido era progressiva. Sequelas da meningite que tivera aos 18 anos e do AVC em 1970, aos 43. Ia perdendo os movimentos a cada dia, já andava com dificuldade. Algumas vezes precisou ser internado com a pressão muito alta. Tínhamos uma cuidadora que lhe ministrava os remédios e as refeições. Nos dias em que eu estava em casa, fazia questão de lhe fazer a higiene pessoal e alimentar. Ele já não falava, mas eu via em seus olhos a alegria de me ter por perto cuidando dele. Um dia, meu filho e Eu o colocamos na cadeira para um banho de chuveiro, ele passou mal. Verificamos depois que era uma espécie de hematoma. O levamos para o hospital onde passou uma semana. Soubemos que era uma escara. Chegou um momento em que já não pode ficar na cadeira de rodas. Perdera o equilíbrio do pescoço e passou a ficar na cama direto.

A vida impunha suas exigências, mas, às vezes me surpreendia com pequenas alegrias. Um dia, sem esperar, recebi no Marista, uma visita inusitada. Minha querida amiga de Itajaí, que foi tal mãe em terras distantes, Dona Onadir Tedeu. Ela chegou à porta da sala de coordenação e bateu palmas. Levantei os olhos e nem acreditei no que via! Com um abraço afetuoso e admiração estampados em seu rosto me dizia da alegria de saber que eu e minha família estávamos bem encaminhados. Contou que estava hospedada no Hotel Vila Rica com os companheiros de excussão. Uma longa viagem em ônibus de luxo lotado. Saíram de Itajaí-SC e iriam até Fortaleza. Disse-me que colocara São Luís no roteiro porque queria muito me ver. Como sabia meu local de trabalho através de correspondência, foi fácil me encontrar.

Quando soube que morávamos perto de onde estava hospedada, ela se propôs a nos fazer uma visita. No dia seguinte, desceu a ladeira da Graça Aranha com dez amigas. A casa era uma porta e duas janelas em estilo colonial, com sala, dois quartos, sala de jantar, cozinha, banheiro e uma pequena área interna.

Ela gostaria de conhecer as frutas da região. Numa noite quente, servimos sucos e sorvetes de sabores variados: bacuri, cupuaçu, graviola, cajá e manga. Na despedida, ela me abraçou e disse que estava feliz com o que eu fizera da minha vida e como cuidava da minha família. Amilcar ainda conseguia conversar e ficou emocionado com a visita. Ela disse que ainda gostaria de me ver outras vezes. Dois anos depois, em nova excussão, me fez uma visita no Marista. Nós já morávamos em outro bairro. Mesmo assim, fez questão de que eu a visitasse, naquela vez, no Hotel Central. Fez questão de lancharmos juntas, eu, ela e quatro amigas da excussão que partiria no dia seguinte cedo.

Ao vender a casinha, em 1978, comprei uma Brasília 76 e aprendi a dirigir Junto com os filhos. Procurei uma casa para comprar financiada. Visitei casas em vários conjuntos,: COHAMA, VINHAIS, COHAFUMA, IPASE e Maranhão Novo. Optei pelo último. O conjunto tinha sido retomado pela construtora que estava reformando as casas. Eu poderia acrescentar a garagem coberta e um quarto na área de serviço. Fechei o negócio, paguei a entrada e a diferença do acréscimo. Em noventa dias receberíamos a casa pronta. Se eu quisesse poderia mudar para uma casa do conjunto enquanto a nossa estivesse em reforma. Para evitar duas mudanças e não pagar multa no contrato de aluguel optei por esperar a nossa ficar pronta.

Um sábado, estávamos todos em casa. Chovia muito forte. Sem que esperássemos uma tromba d’água invadiu a casa. Entrava pelo quintal e saia pela porta da frente. Foi um desespero. A sorte é que o volume maior de água passou direto pelo corredor e saiu na porta da frente.

Entrei em contato com a imobiliária e comuniquei o ocorrido e avisei que diante da situação mudaria imediatamente. Ela concordou. Descobrimos depois que o hotel Vila Rica construído em plano superior ao da casa, encheu a área dos fundos e um funcionário resolveu furar o muro para escoar. Eita!

Esta foto foi recuperada de um crachá.


Publicado por Benedita Azevedo em 14/10/2020 às 21h44
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