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A Seresta
Benedita Azevedo

Sentada à mesa, na seresta, ao lado de meu marido, observo as pessoas. Alguns casais, mas, a maioria é de mulheres sozinhas, alguns homens e duas garçonetes.  O conjunto formado pela bateria, dois violões e um trompete, faz jus ao nome “Manda Vê”. Tanto os músicos quanto os participantes são pessoas com idade superior a cinqüenta anos.

Uma senhora comanda o show. Cada convidado pode cantar até duas músicas. Uns tocam, outros cantam e alguns dançam. Percebe-se que todos estão ali em busca de compartilhar seus dotes e dar importância às suas vidas. Parece que todos se conhecem.

O salão amplo, com mesas nas laterais, deixa toda a extensão central para os dançarinos. Ao lado esquerdo de quem entra, há o bar de onde servem bebidas e algumas iguarias,  para tira-gosto, dando ao proprietário o lucro necessário, já que não são cobradas,  entrada nem consumação.

Os seresteiros cantam suas músicas como se vivessem à época que foram lançadas, nos anos 50, 60 ou mais antigas. Poucos arriscam um repertório mais atualizado. Quando alguém canta um samba, a pista de dança enche. Alguns casais, e as mulheres na falta de um parceiro, dançam sozinhas ou com outras, extravasando sua solidão. Mas, parecem felizes.

A dirigente com sua lista chama os cantores, elogiando os dotes de cada um. Alguns cavalheiros vão alternando de par e dançam com várias senhoras. Assim o baile que começou às 22 horas vai se estendendo...

Logo após a meia noite, entra um grupo com um grande bolo, cantando parabéns. Colocam sobre uma mesa onde está uma das cantoras. Todos se aproximam e engrossam o coro. A senhora apaga as 78 velinhas e é abraçada por todos. A nora explica, que, a aniversariante fizera questão, de festejar seu aniversário, ao lado de seus amigos de seresta. O bolo foi distribuído para todos os presentes.

Antes do final, as pessoas começaram a se despedir. Então fiquei imaginando aquelas senhoras chegando sozinhas a casa, de madrugada,  sem ninguém para contar o que aconteceu, durante a festa ou depois dela. Dormem e acordam sozinhas. Quantas terão Filhos, netos, sobrinhos, afilhados para lhes dar atenção e carinho?

Praia do Anil, agosto de 2008




Benedita Azevedo
Enviado por Benedita Azevedo em 29/03/2009
Alterado em 23/10/2012


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