Noções Elementares de Versificação
Benedita Azevedo
Preparando material para meus netos Caio César, que fará o preparatório para o vestibular e Carla que cursará o 1º ano do Ensino Médio, encontrei em um disquete esta Unidade de Estudos que apliquei em minhas turmas em 2003. Uma adaptação de um outro que aplicara em 1984, no 2º ano científico, no Colégio Marista do Maranhão. Aproveito para postar aqui, pode ser útil para alguém.
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Versificação é a arte ou técnica de escrever em forma de versos. Pode ser também o estudo dos recursos que constituem o poema.
Verso é cada linha de um poema, com um número determinado de sílabas e sonoridade harmoniosa entre as sílabas átonas e tônicas.
Veja:
Da tribo pujante
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiro nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte,
Guerreiros, ouvi.
(Gonçalves Dias)
Andorinha
Andorinha lá fora está dizendo:
“- Passei o dia à toa, à toa!”
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa...
(Manoel Bandeira)
Os dois textos são composições poéticas em versos com estruturas diferentes.
No primeiro texto, há palavras cujos sons são semelhantes a partir da vogal tônica: pujante, errante e outras. Além disso, cada linha possui o mesmo número de sílabas e a 5ª sílaba de cada linha é a última sílaba tônica.
Esses são recursos de que o poeta Gonçalves Dias se utilizou par estruturar seu poema. Já Manoel Bandeira, autor do segundo texto, não usou nenhum desses recursos, mas nem por isso seu texto deixa de também ser um poema.
O uso de recursos como os citados com a finalidade de estruturar um poema chama-se versificação.
Os versos podem ser classificados em tradicionais ou livres.
São tradicionais quando possuem o mesmo número de sílabas e o espaço entre as sílabas tônicas ocorre no mesmo ritmo.
São livres quando os versos não possuem o mesmo número de sílabas; ou quando as pausas entre as sílabas tônicas são irregulares.
Vejamos dois exemplos
Ilusões
Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.
(Francisco Otaviano)
“Tu choraste em presença da morte?
Na presença da morte choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!”
( Gonçalves Dias )
Tanto os seis versos de Francisco Otaviano quanto estes quatro de Gonçalves Dias são tradicionais porque possuem o mesmo número de sílabas, e as pausas que dão ritmo a eles são regulares.
Observe, agora, um exemplo de versos livres que não possuem essas características:
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
( Carlos Drumonnd de Andrade)
A Estrofe
Estrofe ou estância: é o conjunto de versos de um poema e, de acordo com o número de versos que tenha recebe uma classificação.
* monóstico: estrofe de um verso;
* dístico: estrofe de dois versos;
* terceto: estrofe de três versos;
* quadra ou quarteto: estrofe de quatro versos;
* quintilha: estrofe de cinco versos;
* sextilha: estrofe de seis versos;
* sétima ou septilha: estrofe de sete versos;
* oitava: estrofe de oito versos;
* Nona: estrofe de nove versos;
* décima: estrofe de dez versos.
Vejamos um exemplo de dístico.
Poema do beco
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.
( Manoel Bandeira )
Estribilho ou refrão
Alguns poemas, no fim das estrofes, apresentam um verso ou um grupo de versos que se repete e que recebe o nome de estribilho ou refrão.
Roda viva
Tem dias que a gente se sente
como quem partiu ou morreu,
a gente estancou de repente
ou foi o mundo então que cresceu.
A gente quer ter voz ativa
no nosso destino mandar,
mas eis que chega a roda viva
e carrega o destino pra lá.
Roda mundo, roda-gigante
rodamoinho, roda pião,
o tempo rodou num instante (refrão)
nas voltas do meu coração.
A gente vai contra a corrente
até não poder resistir,
na volta do barco é que sente
o quanto deixou de cumprir.
Faz tempo que a gente cultiva
a mais linda roseira que há,
mas eis que chega a roda viva
e carrega a roseira pra lá.
A roda da saia, a mulata
não quer mais rodar, não senhor,
não posso fazer serenata
a roda de samba acabou.
a gente toma a iniciativa
viola na rua a cantar,
mas eis que chega a roda viva
e carrega a viola pra lá.
( Chico Buarque)
As estrofes podem ser simples ou compostas. As que contêm versos de uma só medida são chamados de simples. No exemplo a seguir, todos os versos são heptassílabos.
Observe:
Canção do amor perfeito
O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
comoasareiasnas águas
O tempo seca a saudade
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.
(Cecília Meireles )
As compostas são as que associam versos maiores com menores. As combinações mais encontradas em nossa língua são:
· versos decassílabos com hexassílabos.
· versos decassílabos com octossílabos, hexassílabos ou
tetrassílabos.
· versos heptassílabos com trissílabos ou dissílabos.
Veja um exemplo do primeiro tipo de combinação:
“Debruçada nas águas dum regato ............( decassílabo)
A flor dizia em vão ...................................( hexassílabo)
À corrente, onde bela se mirava.................(decassílabo)
‘Ai, não me deixes, não!”...........................( hexassílabo)
Poemas de Forma Fixa
Existem poemas que têm forma fixa, isto é, obedecem a regras quanto ao número de estrofes e de versos e quanto à disposição das rimas. Dentre eles temos:
1.Balada: composto por três oitavas ou três décimas, que têm as mesmas rimas, seguidas de uma quadra ou quintilha.
2. Haicai: poema de origem japonesa, composto por três versos, sendo o primeiro e o último pentassílabos e o segundo, heptassílabo. Originalmente não possui rima; no Brasil Guilherme de Almeida adaptou-o com dois pares de rimas. Rimam o 1º com o 3º verso e a 2ª com a 7ª sílaba do segundo verso.
3. Rondó: formado de três estrofes: uma quintilha, um terceto e outra quintilha, com estribilho constante.
4. Sextina: composição de seis sextilhas e um terceto apresenta versos decassílabos.
5. Vilancete: composto por um terceto e duas oitavas.
6. Soneto: poema composto de catorze versos, sendo dois quartetos e dois tercetos, que apresenta, geralmente, versos decassílabos ou alexandrinos.
De todas essas formas, o soneto tem sido a mais cultivada na literatura, tanto na portuguesa quanto na brasileira.
O Metro
Metro é a extensão da linha poética, do verso. Na poética tradicional, há doze tipos de versos, de acordo com o número de sílabas poéticas que o verso possui:
monossílabos, dissílabos, trissílabos, tetrassílabos, pentassílabos, hexassílabos, heptassílabos, octossílabos, eneassílabos, decassílabos, hendecassílabos e dodecassílabos.
Paralelamente a essas denominações, certos versos podem receber nomes especiais:
# redondilha menor: versos de cinco sílabas ou pentassílabos;
# redondilha maior: versos de sete sílabas ou heptassílabos;
# heróico: versos de dez sílabas ou decassílabos;
# alexandrino: verso de doze sílabas ou dodecassílabos.
Sílabas Métricas
As sílabas métricas, também chamadas de poéticas, são as sílabas dos versos e têm uma contagem diferente da sílaba gramatical. Dividir o verso em sílabas métricas chama-se escandir.
Escandir um verso é dividi-lo em sílabas métricas. Veja a escansão dos versos a seguir:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
“Al / ma/ mi / nha/ gen / til,/ que / te/ par / tis/ (te)” esta sílaba não é contada ( Camões)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
“A / mor,/ que o/ ges/to hu / ma / no / na al / ma es/cre/ (ve) não conta
( Camões)
A contagem das sílabas métricas é feita auditivamente, obedecendo aos seguintes preceitos:
1. Não são contadas as sílabas métricas que se apresentam após a última sílaba tônica do verso. Veja o exemplo acima.
2. Os ditongos crescentes, em geral, têm o valor de uma só sílaba métrica:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
“- Co/mo/ fi/zes/te,/ por-/se a/ tal/ fe / ri / (da?) não conta a última
cia = uma sílaba métrica (ditongação)
3. Duas ou mais vogais átonas, ou tônicas, podem fundir-se em uma só sílaba métrica, quando se encontram no fim de uma palavra e início de outra:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
“A / mor,/ que o/ ges/to hu/ma/no/ na al/ma es/cre/ (ve)”ànão conta ( Camões)
Perceba a diferença entre a sílaba gramatical e a métrica ou poética: neste verso temos 15 sílabas gramaticais, mas só 10 sílabas poéticas. Veja acima.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
“A /mor,/ que /o /ges /to / hu / ma / no / na/ al /ma / es / crê / ve”
Licenças poéticas
Os poetas podem recorrer a vários processos fonéticos para que o metro seja perfeito. Os principais são:
1. crase: é a fusão de duas vogais numa só: mi/nha al/ma ( mi-nhal-ma).
2. elisão ou sinalefa: é a quebra de uma vogal átona final de uma palavra, quando a seguinte começa por vogal). Ex.: can/ta um ( can-tum).
3. ditongação: é a fusão de uma vogal átona final com a seguinte, formando ditongo. Ex.: gran/de a/mor (gran/dia/mor); cam/po al/ca/ti/fa/do ( cam-pual-ca-ti-fa-do).
4. Sinérise: é a transformação de um hiato em ditongo. Ex.: cru/el/da/de ( cruel-da-de); vi/o/le/ta ( vio-le-ta).
5. deérise: é a transformação de um ditongo em hiato. Ex.: sau/da/de ( sa-u-da-de); vai/da/de ( va-i-da-de).
6. ectilipse: é a queda de um fonema nasal final para que haja crase ou ditongação. Ex.: com o = (co); com os = (cós); com a = (coa); com as = (côas).
7. aférese:é a queda de fonemas ou sílabas iniciais. Ex.: inda
(em vez de ainda), ‘stamos (em vez de estamos)
8. síncope: é a queda de um fonema no meio da palavra. Ex.:
esp’rança (por esperança); dev’ria ( por deveria); per’la ( por pérola);
9. apócope: é a queda de fonema no fim da palavra. Ex.: mármor
(em vez de mármore); cárcer (por cárcere); val (por vale).
10. prótese: é o acréscimo de fonema no início da palavra. Ex. alevanta (por levantar); amostra (por mostra);
11. paragoge ou epítese: é o acréscimo de fonema no final da palavra. Ex.: mártire (por mártir); cantare ( por cantar);
12. diástole:é a deslocação do acento para a sílaba seguinte. Ex.: Cleopatra (em vez de Cleópatra);
13. sístole: é o inverso da diástole: deslocação do acento para a sílaba anterior. Ex.: Dário (por Dario); calmária (por calmaria); A sístole e a diástole recebem o nome genérico de hiperbibasmo;
14. metátese: é a transposição de um fonema na própria palavra. Ex.: vairo (por vário); rosairo (por rosário); trata-se de um recurso fonético pouquíssimo usado pelos poetas, que só para ele apelam quando desejam satisfazer as exigências de rima.
Todos esses recursos são usados pelos poetas, no verso tradicional, para que o metro seja perfeito. Convém observar que, no verso tradicional, a métrica é fixa: os versos de um poema terão cada um deles, de uma a dose sílabas poéticas. No verso moderno, a métrica é livre, isto é, cada verso pode ter o número de sílabas poéticas que o autor desejar. Em função disso, o ritmo também é estabelecido livremente, de acordo com a vontade do autor.
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O Ritmo
O ritmo de uma poesia é estabelecido pela regularidade na sucessão de sílabas átonas e tônicas. É o ritmo que determina a melodia fundamental e indispensável na estrutura de um verso ou poema.
Há, portanto, necessidade de repetirem-se as sílabas tônicas, com pausas regulares entre elas, o que dá, ao verso, uma cadência mais musical e melodiosa.
Assim, de acordo com a métrica do verso, a sílaba tônica recai em determinadas sílabas poéticas, considerando-se os seguintes preceitos básicos:
1. Nos versos de uma a sete sílabas, a tônica recai sobre a última. Assim, em versos com três sílabas, por exemplo, deve haver acento tônico na terceira sílaba; em versos com seis sílabas, deverá haver acento tônico obrigatoriamente, na sexta sílaba. Vejamos os exemplos para esses casos:
Verso de uma sílaba: monossílabos
“Pingo
d’água,
pinga,
bate
tua
mágoa!”
( Cassiano Ricardo)
Os versos dissílabos geralmente se empregam ao lado de outros, para obtenção de maior valor expressivo. Veja:
“Antiga
cantiga
da amiga
deixada.
Musgo de piscina
De uma água tão fina, ( versos de 5 sílabas)
Sobre a qual se inclina a 5ª é sempre acentuada.
A lua exilada.
Antiga
Cantiga
Da amiga
Chamada.”
(Cecília Meireles)
Versos de três sílabas: trissílabos
Versos trissílabos usados isoladamente são raríssimos na poesia brasileira. Quando ocorrem, costumam ser mais encontrados também em estrofes compostas, como os versos monossílabos e os dissílabos. Veja o exemplo:
“Agora sim
Café com pão ( versos de 4 sílabas)
Agora sim a 4ª é sempre tônica
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai se foguista
Bota fogo
Na fornalha
que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força”
Muita força”
( Manuel Bandeira)
Em nossa Literatura é este poema de Gonçalves Dias.
um dos exemplos de versos trissílabos mais conhecidos.
“Vem a aurora
pressurosa
cor-de-rosa
que se cora
de carmim;
a seus raios
as estrelas
que eram belas
têm desmaios
já por fim.”
(Gonçalves Dias)
Versos de quatro sílabas: tetrassílabos
“Noites perdidas,
não te lamento:
embarco a vida
no pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,
puro e sem nada,
- rosa encarnada,
intacta ao vento.”
(Cecília Meireles)
Versos de cinco sílabas: pentassílabos ou redondilha menor
Os versos pentassílabos são muito freqüentes nos poemas da
Literatura em Língua Portuguesa. Dão ritmo e leveza ao texto.
“Enfunando os papos,
saem da penumbra,
aos pulos os sapos,
a luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- ‘Meu pai foi à guerra!’
- ‘não foi!’ – ‘Foi!’ – ‘Não foi!’
(Manuel Bandeira)
Versos de seis sílabas: Hexassílabos
“O menino ambicioso
não de poder ou glória
mas de soltar a coisa
oculta no seu peito
escreve no caderno
e vagamente conta
à maneira de sonho
sem sentido sem forma
aquilo que não sabe."
( Carlos Drumond de Andrade)
Versos de sete sílabas: heptassílabos ou redondilha maior
O verso de sete sílabas é largamente usado na literatura em Língua Portuguesa. Dele serviram-se os poetas desde a Idade Média até os nossos dias.
“Belo belo minha bela
tenho tudo que não quero
não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto.”
(Manuel Bandeira)
A redondilha maior é também a medida preferida dos compositores de música popular brasileira. Observe:
“Estava à-toa na vida
o meu amor me chamou
pra ver a banda passar
cantando coisas de amor.”
(Chico Buarque)
“Caminhando contra o vento
sem lenço e sem documento
no sol de quase dezembro
eu vou.”
(Caetano Veloso)
Entre os poetas portugueses, a redondilha maior também é freqüente:
“Outros haverão de ter
O que houvemos de perder.
Outros poderão achar
O que no nosso encontrar,
Foi achado ou não achado
Segundo o destino dado.
(Fernando Pessoa)
2. Nos versos de oito a dez sílabas, além do acento tônico na última sílaba poética, deve haver outro que recaia no meio do verso. No entanto, se não houver sílaba tônica no meio, deverá haver duas outras que se distribuam da seguinte maneira:
a).verso de 8 sílabas: tônica na 8ª e na 4ª; ou tônica na 8ª e na 5ª;
b) verso de 9 sílabas: tônica na 9ª e na 4ª; ou tônica na 9ª, na 3ª e 6ª;
c) verso de dez sílabas: tônica na 10ª e na 6ª; ou tônica na 10ª, 4ª e 8ª .
Vejamos os exemplos para esses tipos de versos.
Versos de oito sílabas: octossílabos
“Ó solidão do boi no campo,
ó solidão do homem na rua!
Entre carros, trens, telefones,
Entre gritos, o ermo profundo.”
( Carlos Drumond de Andrade)
“O samba, a viola, a roseira
um dia a fogueira queimou
foi tudo ilusão passageira
que a brisa primeira levou.
(Chico Buarque)
Versos de nove sílabas: eneassílabos
“Ó guerreiro da Taba sagrada,
Ó guerreiro da tribo Tupi,
Falam Deuses nos cantos da Piaga,
Ó guerreiros meus cantos ouvi.”
(Gonçalves Dias)
“Na tênue casca de verde arbusto
Gravei teu nome, depois parti.
Foram-se os anos, foram-se os meses,
Foram-se os dias, acho-me aqui.
( Fagundes Varela)
Versos de dez sílabas: decassílabos
Os versos decassílabos têm grande ritmo. São encontrados principalmente em poemas épicos e no soneto. Veja esse ex.:
“Dorme, ruazinha...É tudo escuro...
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono, sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos...”
( Mário Quintana)
Nos versos de onze e doze sílabas, deve haver, além do acento tônico na última sílaba, outros assim distribuídos;
a) versos de onze sílabas: tônica na 11ª e na 5ª;
b) versos de doze sílabas: tônica na 12ª e na 6ª;
Veja a seguir exemplos desses versos:
Versos de onze sílabas: hendecassílabos
“Meus olhos são garços, são cor de safiras
- Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
Imitam as nuvens de um céu anilado,
As cores imitam das vagas do mar!”
(Gonçalves Dias)
Versos de doze sílabas: dodecassílabos ou alexandrinos
É, quando ela passar, tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração, que vela...
E ela irá como o sol, e eu iremos atrás dela
Como sombra feliz... – Tudo isso eu me dizia.”
( Guilherme de Almeida)
Versos bárbaros
São aqueles que têm mais de doze sílabas. São bastante raros. Veja:
“Às vezes, quando à tarde, nas tardes brasileiras,
A cisma e a sombra descem das altas cordilheiras;
Quando a viola acorda na choça o sertanejo
E a linda lavadeira cantando deixa o brejo,
E a noite- a freira santa - no órgão das florestas
Um salmo preludia nos troncos, nas giestas.”
( Castro Alves)
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A rima
Rima é a semelhança de sons entre as palavras que se localizam no fim ou no meio de versos diferentes. Observe:
“Cambiando a luz em mil cores,
Deus – de infinitas facetas –
Concebeu os Beija-flores,
As Rosas e as Borboletas.”
(Maria Madalena Ferreira)
“Donzela bela, que me inspira à lira
um canto santo de fremente amor.”
(Castro Alves)
Há, também, versos sem rima, chamados de verso brancos ou soltos:
“Nua, de pé, solto o cabelo às costas,
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
De áureas ondas tranqüilas e impalpáveis
Profusamente a luz do meio dia
Entra e se espalha palpitante e viva.”
(Olavo Bilac)
Quanto à qualidade, as rimas podem classificar-se em:
1. Pobres: rimas formadas com palavras da mesma classe gramatical:
“Não acabava, quando uma figura” (substantivo)
Se nos mostra no ar, robusta e válida, ( adjetivo)
De disforme e grandíssima estatura; ( substantivo)
O rosto carregado, a barba esquálida. ( adjetivo)
2. Ricas: Rimas formadas com palavras de classes gramatical diferente:
“Alma minha gentil que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.
(Luís Vaz de Camões)
3. Raras: formadas entre palavras para as quais há poucas rimas possíveis:
“Para que não ter por ti desprezo? Por que não perdê-lo?...
Ah, deixa que eu te ignore... O teu silêncio é um leque –
Um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo,
Mas mais belo é não abrir, para que a Hora não peque...”
( Fernando Pessoa)
4. Preciosas: são rimas obtidas de forma artificial, construídas com palavras combinadas:
“Brilha uma voz na noute...
De dentro de Fora ouvi...
Ó Universo, eu sou-te
Oh, o horror da alegria
Deste pavor, do archote
De apagar, que me guia!”
(Fernando Pessoa)
1. Quanto à disposição, as rimas podem classificar-se em:
2. Encadeadas: rima de fim de verso com o interior do verso seguinte:
“Quando a alta noite n’amplidão flutua
Pálida a lua com fatal palor,
Não sabes, virgem, que eu por ti suspiro
E que deliro a suspirar de amor”
(Castro Alves)
3. Cruzadas ou alternadas: apresenta-se em versos alternadas:
Minha terra sem palmeiras
Nos longes de mim se faz
E morre pelas ladeiras
E desvãos o nunca mais.
(José Inaldo Alonso)
4. Intercaladas, interpoladas ou opostas: rimam os verso extremos de uma estrofe:
“Disse um dia Jeová
“Vai Colombo, abre a cortina
Da minha eterna oficina...
Tira a América de lá!”
(Castro Alves)
5. Emparelhadas: sucedem-se duas a duas. Veja:
“- Dize, Juca Mulato, o mal que te tortura.
- Roque, eu mesmo não sei se esse meu mal tem cura.
- Sei rezas com que venço a qualquer mau olhado,
- Breves para deixar o corpo fechado.”
( Menotti del Pcchia)
Este estudo é dedicado a quem pretende escrever poesia, especialmente, a tradicional.
Benedita Azevedo
Bibliografia
1 - Mesquita. Roberto Melo, Gramática da Língua Portuguesa, Saraiva, 3ª ed. 1995, São Paulo – SP.
2 – Sacconi. Luiz Antônio, Nossa Gramática, Teoria e prática, Atual Editora, 25ª ed., 1999, São Paulo – SP.
3. Paschoalin & Spadoto, Gramática, Teoria e Exercícios, FTD, 1989, São Paulo – SP.
4. Alonso. José Inaldo, Notas para a História de Magé, Ed. Do autor, 2000, Niterói – RJ.
5. Letras Itaocarenses, BALI, Nº 156, ano XIV – junho de 2003.