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FORMIGAS ATACAM
Domingo, dia de jogo no Maracanã. A família inteira fora de casa. Eu, como sempre, às voltas com textos: crônicas, contos, narrativas, haicais, trovas, sonetos, poemas e uma montanha de e-mails para ler e responder.

Estava eu editando uma crônica antiga quando me aparecem à frente casas de formigas para todos os lados. Desaparece o computador e me vejo em meio a uma grande extensão de terra, uma plantação de milho. Sem saber ao certo onde estava comecei a andar no meio do milharal. Percebi que em cada pé de milho havia um pé de feijão subindo pela haste, cheios de flores brancas com matiz amarelo ao centro, formando pequenos buquês. Dali saiam finas vagens tenras, umas pequeninas e outras já bem longas as quais eu colhia e colocava numa cestinha de vime enfeitada com fita amarela.

Flutuei entre a plantação com a cestinha cheia de vagens verdes ao lado da fita amarela. Já não colhia, só observava as belas espigas de milho que de repente apareceram à minha frente. Algumas com as barbas multicoloridas em amarelo, rosa e vermelho. Flutuei sobre a plantação maravilhada com tanta beleza. A certa altura colhi uma espiga com barbas vermelhas e coloquei em um canto da cesta entre as vagens verdes e a fita amarela. Continuei a flutuar sobre o milharal.

Em determinada altura percebi que a plantação estava toda destruída. Aproximei-me para observar a certa distância: Os pés de feijão desapareceram com suas flores e vagens e os de milho estavam cobertos de formigas vermelhas, enormes!!!... Sem que eu esperasse as formigas começaram a me atacar. Fugi dali meio desesperada com elas a me perseguirem. Dei voltas sobre a plantação tentando desvencilhar-me daquele formigueiro e elas sempre a me perseguirem. Algumas já me tinham alcançado e subiam pelas minhas pernas, pelos meus braços, subindo, subindo... Antes que chegassem ao meu busto e à região pélvica mergulhei no Rio Itapecuru, que não sei como, apareceu à minha frente. Senti na pele a carícia de suas águas, irmãs da minha infância. Em volteios periféricos, identifiquei onde estava. Emergi com a cesta na mão, apenas com uma vagem presa ao vime e a fita amarela toda molhada. O milho e o resto das vagens boiaram nas ondulações do meu rio querido.

Ao perceber-me de volta à frente do computador, escrevendo esta crônica, vi que fora apenas uma divagação e que aquelas formigas devem ter emigrado para a sua casa de origem.
Benedita Azevedo


Benedita Azevedo
Enviado por Benedita Azevedo em 24/06/2007
Alterado em 06/03/2012


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