Visita ao Santuário do Caraça - MG
Durante a "Semana Luso Brasileira" realizada de 22 a 27 de outubro de 2015, na cidade de Mariana - MG, dentre as várias atividades programadas estava a visita ao Santuário do Caraça. Saímos cedo de Mariana. No trajeto pudemos vislumbrar ao longe a grande extensão do lago onde estavam acumulados os rejeitos da mineradora e mais abaixo as águas cristalinas do Rio Doce. Um contraste na paisagem exuberante da região. Ao entrarmos nos domínios do Santuário a estrada bem cuidada serpenteava em curvas diferenciadas. Algumas bem fechadas deixavam o visitante menos acostumado, a sentir um friozinho na barriga, pondo-se na pele de quem estava dirigindo, embora soubesse que era tranquilo e experiente o condutor da van (carrinha para nossos amigos portugueses). O visual descortinado ao longe, favorecido pela atmosfera, em um dia claro, sem nuvens carregadas, enchia o espírito de júbilo ao apreciar a flora exuberante com suas cores e odores e a fauna composta por pássaros e pequenos animais. A conversa ia animada pelos extasiados visitantes diante de um cenário totalmente diferente de tudo que tinham visto, estimulados pelas histórias contadas pelos anfitriões. Como por exemplo, que o colégio era somente para meninos que, ao terminarem o primário entravam no Caraça e só voltavam para casa após seis anos, sem nunca poderem visitar as famílias. Entretanto, saíam preparados para enfrentarem a vida, falando cinco línguas. Os mais aplicados falavam sete. À chegada fomos recepcionados pela grande placa com imagens do Santuário, das montanhas e animais, com a legenda: 240 anos de História, Cultura e Educação. (1774-2014). A primeira visão que se tem é das ruínas resultantes do grande incêndio que destruiu completamente o internato. No trajeto passamos por construções posteriores à tragédia, jardins bem cuidados e a simpatia de todos. Encontramos o Padre Lauro que já aguardava a visita dos poetas Aldravianistas, criadores da aldravia, nova forma de poesia; os ilustres convidados portugueses e alguns dos 63 poetas que participaram do “Livro III das aldravias”, dentre os quais eu me incluía e acompanhava o grupo ao lado de meu marido, Christian. O lançamento do livro fez parte das atividades do “Semana Luso Brasileira”. Após as apresentações, padre Lauro contou da visita diária de um lobo e outros animais ao pátio do Santuário do Caraça. Em seu relato, as pessoas, à noitinha, se reuniam para conversarem, rezarem e esperarem que os animais se acostumassem com a presença delas. Aos poucos se aproximavam de um tabuleiro cheio de comida ali colocado para atraí-los e se alimentarem. Com o tempo o lobo acaba comendo na mão do padre. Padre Lauro nos acompanhou à visita orientada. Primeiro ao santuário, depois à biblioteca onde nos mostrou livros raros, alguns com anotações pessoais de D. Pedro II. Depois passamos ao museu com uma gama enorme de objetos conservados ao longo dos 240 anos de história. Começando pela exposição de suas próprias fotos que segundo ele são alguns milhares. Ao final, a presidente da ALACIB, Andreia Donadon Leal e o Professor Dr. Victor Escudeiro e sua esposa, professora Drª Ana Cristina Martins, ambos da Universidade de Lisboa, ofereceram ao padre Lauro diplomas, medalhas e livros. Padre Lauro Palú, 74 anos, conheceu o santuário em 1953, aonde foi para terminar os estudos. Passou 50 anos fora trabalhando, viajando e estudando. Na bagagem carrega o conhecimento em 10 idiomas, incluindo o Português. Em 2014 retorna, e hoje cuida do lugar. Após o término da “Semana Luso Brasileira”, dia 27 de outubro, voltamos à nossa casa, à Praia do Anil, Magé-RJ, chegando dia 28. Pouco mais de uma semana, dia 5 de novembro, nem acreditamos quando ouvimos o noticiário. Dava conta do desastrado acidente do rompimento da barragem do Fundão que danificou a barragem de Santarém, destruindo a cidade de Bento Rodrigues, MG, avariando outros municípios e o Rio Doce em toda sua extensão. Provocando talvez, o maior acidente ecológico de que se tem notícia no Brasil, em todos os tempos. Praia do Anil, Magé – RJ, 23 de dezembro de 2015 Benedita Silva de Azevedo Benedita Azevedo
Enviado por Benedita Azevedo em 23/12/2015
Alterado em 02/01/2016 |