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As cotas não resolverão o problema da educação.
Sou afro-descendente, professora de português há trinta anos e fico abismada com essa bobagem de cotas para negros e pobres. Não concordo. Sou parda, fui muito pobre, tive de conquistar cada milímetro da minha trajetória de vida, cada conquista era uma festa interior. A luta foi muito grande, mas muito boa.
Li nos jornais a triste realidade da avaliação externa da nossa educação. Como esperar coisa melhor se a educação está relegada a último plano. Em primeiríssimo lugar estão os interesses políticos. Certa vez ministrando um curso de atualização em Língua Portuguesa, conheci professores semi-analfabetos ensinando na 4ª série. Com muito cuidado tentei alertar a Coordenadoria. Fiquei sabendo que as professoras eram indicação de um político e que não poderiam ser removidas para outra função. Como ensinar o que não sabem? E essa questão da cota vai piorar muito a situação. Teremos cada vez mais professores sem conhecimentos, ensinando somente o que sabem, gerando um círculo vicioso: Saem dos cursos de formação despreparados. Arranjam um padrinho político. São intocáveis dentro da escola. Seus alunos conhecendo ou não os conteúdos básicos estão sempre com notas ótimas. Na hora de uma avaliação mais séria, não sabem nada.
Não queremos cidadãos de segunda categoria. Pretos, brancos, pardos, pobres, precisam ter competência e capacidade para assumir a sua própria história. Com trabalho digno. Todos têm o direito de ter um ensino, em todos os níveis, que os preparem para conquistar a sua independência financeira e psicológica, sem precisar de esmolas, mas de trabalho. Para isso as escolas de Ensino Fundamental e Médio precisam ser mais bem estruturadas. Com diretores, professores e técnicos conscientes de suas responsabilidades diante da formação da criança, do jovem, do adulto.
O que seria de José do Patrocínio, de Cruz e Sousa e tantos outros se não fossem tão bons ou melhores que seus contemporâneos?

Julho de 2004
Professora Benedita Azevedo
( Rio de Janeiro )


Benedita Azevedo
Enviado por Benedita Azevedo em 24/07/2007
Alterado em 23/10/2012


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