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Verdades da Vida ( Crônica dialógica )
- Mãe, às vezes fico pensando como são as coisas. A senhora nos educou de uma maneira que vemos o mundo muito bonito diante de tantas coisas ruins.
- Mas o mundo é belo, filha, o ser humano é que o transforma. As pessoas tomam atitudes muitas vezes sem pensar nas conseqüências. Atingem os outros por inveja, por despeito, por incapacidade, por complexos e muitas vezes porque gostariam de ser como aquela pessoa.
- Mas isso não é justo, como podemos conviver com pessoas que ficam espreitando o nosso comportamento, o nosso modo de ser para julgar-nos sem conhecimento dos fatos da vida da gente?
- Isso é o que mais existe no mundo. O palpite sem conhecimento da realidade dos fatos. Com os anos que já vivi, posso dizer que muitas vezes a realidade nunca aparece. A fantasia, as interpretações de acordo com os interessados que detêm o domínio da situação, vigoram como verdades; e a verdade é olvidada, desconsiderada e transformada em algo sem atrativos, sem importância, sem vez.
- Desse jeito a vida perde o sentido, como ficam as pessoas que foram educadas valorizando a verdade?
- Confesso que algumas vezes já me deparei com essa interrogação,  em momentos de reflexão, quando percebi que as nossas verdades nem sempre são as verdades dos outros.
- A verdade é uma só. Não existe uma verdade para cada pessoa. Os fatos são verdadeiros ou não.
- Mas há maneiras diferentes de interpretar a realidade. O que pode me parecer justo, pode ser percebido por outros de maneira diferente. Depende muito da conotação, do ponto de vista de cada pessoa.
- Pelo que vejo tenho muito ainda o que aprender. Não consigo ver as coisas desta maneira.
- Minha filha, tudo depende do juízo de valor de cada pessoa. Do meio em que elas vivem, da cultura familiar, da religião, do grau de instrução que têm, do discernimento do real, e por aí vai. A realidade é muito relativa, depende da análise de muitos fatores.
- Eu acho muito complicado. Mas depois dos seus argumentos, comecei a perceber. É o caso do tratamento entre nós duas. Enquanto eu lhe trato de senhora, não temos segredos e conversamos sobre qualquer assunto; a maioria das minhas amigas trata as mães de tu, mas algumas não têm diálogo com elas e vivem falando da diferença de gerações.
- É exatamente isso. A escala de valores das pessoas é muito relativa.
Um bom exemplo disso, é a novela “O Clone”, quando Glória Peres abordou os hábitos e costumes dos países árabes, que nos parecem absurdos. Mas por outro lado, podemos observar que as mulheres são tratadas como rainhas. É lógico, visto pelo prisma da novela. Naquele nível social abordado. Porque pelo que sabemos, da realidade, há uma conotação totalmente diferente, do que foi mostrado. É um povo sofrido com os problemas de paz que enfrentam.  Estão sempre em guerra e não valorizam a vida pela nossa ótica. Alguns homens acreditam que podem explodir o próprio corpo para ganhar  um paraíso com sessenta virgens do outro mundo.
- Isso é outro absurdo!
- Tudo é muito relativo, filha. O importante é vivermos de acordo com os valores nos quais acreditamos e fomos educados, procurando aprimorá-los a cada dia, buscando sempre o crescimento interior, e transmiti-los aos nossos descendentes e a quem mais os aceitar de maneira tranqüila, sem imposições.
                                                          Abril de 2003
                                                       Benedita Azevedo
Benedita Azevedo
Enviado por Benedita Azevedo em 01/08/2007
Alterado em 23/10/2012


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