Haicai, Verso e Prosa

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Gênese do Haicai

[Luís Antônio Pimentel]

 

Quem ainda não viu, ora em ouro, ora em prata, ora em madrepérola, uma porção de garatujas exóticas, mas, decorativas, arabescando o negror invejável e luzidio de uma caixa de charão? Não há quem ainda não as tenha visto e mesmo admirado. Viram nas caixas de charão, nos vasos enramados de cerejeiras e ameixeiras floridas, nas lanterna de Gifu ou Odawara, nos leques cromados, nas ventarolas delicadas de bambu e papel, ou nas finíssimas xícaras de chá que o Japão exporta para o mundo inteiro. É sobre esses arabescos retorcidos, que são quase sempre maravilhoso poemas de rara delicadeza e emoção, quer pelo tamanho reduzido, quer pela sua essência, que escreveremos. Esses arabescos são poemas de trinta e uma sílabas, uns, e de dezessete, outros, menores, bem menores que a nossa trova, nossa quadra, nossa redondilha. São esses arabescos as famosas poesias waka (pronuncia-se uaca) e o haicai – amostra magníficas do espírito delicado dos nipões, que parecem ter nascido para a arte, para a literatura.

 

Embora os japoneses tenham herdado muito da cultura chinesa, através do budismo que ali chegou, atravessando a península da Coreia, no ano 600 da nossa era, quando adotaram a escrita chinesa, os caracteres chineses que chamam Kan-ji (letra ou ideograma da China), a waka e o haicai são poesias genuinamente japonesas. São poesias sóbrias, delicadas e complexas como o povo japonês.

 

A poesia espelha bem a alma de um povo. Uma nação cujos súditos se dedicam ao Bom-Kei, confecções de paisagens em miniatura; ao Bom-sai, árvores anãs de 10 centímetros de altura ou pouco mais, florescendo e frutificando, ou escrevem poemas em grãos de arroz, não poderia ter como poesia nacional, como não tem, uma composição agigantada. De síntese absoluta, essas poesias que vêm desde o ano 840 a,C. serviriam para, com ótima documentação, rotular os marinetti que andam por aí falando em modernismo, como ridículos, radicularíssimos e bolorentos passadistas. A waka, que é poesia típica vem desde a Era dos Deuses (Kamiyo- Jidai), quando o Japão era todo um céu. Foi, sem dúvida alguma. Susano-wo-no-Mikoto, irmão da Deusa Sol, fundadora do Império do Sol Nascente, quem compôs a primeira waka, que não se perdeu em sua trajetória através dos séculos.

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Assim escreveu, ou, melhor, falou o primeiro poeta que a história do Japão consagrou.

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“Yaguma tatsu

Izumo yaegaki

Tsumagomi ni

Yaegaki tsukuru

Sono yaegaki wo”

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Ou seja em nossa língua

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“ Andei oito nuvens

até as terras de Izumo...

Ergui oito muros

-- um castelo de oito muros,

Para guardar minha amada...”

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A waka, que tem na parte superior versos de cinco, sete, cinco sílabas, e na parte inferior, dois de sete, perfazendo um total de trinta e uma sílabas, é também chamada Shikishima-no-michi, que quer dizer: à maneira de Shikishima (nome antigo do Japão), ou ainda Yamato uta, poema japonês.

 

Há mais de mil e cem anos foi publicada a primeira obra clássica de waka, intitulada Manyo-shu, primorosa coletânea de poesias feitas por poetas de todas as castas, desde soldados imperadores até poetas e agricultores, que ainda em nossos dias é editada, lida e comentada pelo seu grande valor como documentário histórico. Os poetas máximos dessa época foram Hitomaro, Akahíto, Okura, Yakamochi e outros.

 

Mais tarde, na Era do Imperador Daigo (ano 922 da nossa Era) foi copilada uma outra coletânea, ou melhor, uma antologia não menos notável, intitulada Kokin-shu (coletânea de antigas e novas wakas), de onde selecionaram os cem poetas célebres que estão ornamentando as cartas usadas para jogar durante os dias festivos do Ano Novo no Japão.

Essa nova obra veio enriquecer sobremaneira a poesia japonesa, lançando nomes como Tzurayuki, Narahira e a poetisa Komachi que marcou época no império das Cerejeiras em flor, ficando famosa, não só pelo seu talento invejável, pela sua inspiração divina, mas, principalmente, por sua incomparável beleza. Seu nome ainda hoje no Japão é empregado como sinônimo de mulher bela talentosa.

 

Daí por diante, várias séries de waka, surgiram, mas já sob o controle do governo, sem contudo lograr o sucesso marcante, definitivo, absoluto, das publicações anteriores.

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Na Era Meiji, em que o imperador só de 1893 a 1901 produziu nada menos que 27.000 (vinte e sete mil) wakas surge Shiki Masaoka, dando novos rumos, emprestando à waka novas normas, afastando-a um pouco dos moldes demasiadamente clássicos, cristalizados, viciados - gastos através dos séculos. Foi quando se projetou a famosa poetisa Akiko e o poeta Takuboku liderando outros nomes que, igualmente, ficaram gravados para sempre, na história da poesia japonesa.

 

No século XIII, com o evoluir da waka, surgiu um novo tipo de poesia que se chamou renka (poema em sequência). Tornou-se hábito dois poetas ou mais comporem, alternadamente, em 17 (5-7-5) e 14 (7-7) sílabas métricas um poema tipo waka, dentro de um tema sugerido pelo predecessor. O número preferido para o grupo poético era de três pessoas e dez o número ideal de alternações. Assim organizados, compunham de improviso, não um único poema, mas uma razoável sequência deles. Os temas dados, como os nosso motes, não deveriam ser herméticos para que não tornassem os poemas obscuros, impenetráveis para a maioria dos que se deleitavam a ouvi-los. Com essa inovação, a forma nova, revolucionária, dinamizada de compor waka, de improviso e de parceria, sob a denominação de renka, pois um poeta fazia a parte superior (5-7-5 sílabas) e outro a completava fazendo a inferior (7-7 sílabas), estava arado o terreno onde seria lançada a semente do mais curto e mais belo poema canônico de todas as línguas e de todas as literaturas do mundo e que seria chamado haiku ou haicai, como foi escolhido por nós de língua portuguesa, por mera questão de eufonia, cultivado e admirado por quase todos os povos cultos do planeta terra.

 

Em pleno Século XIII, no Período Ashikaga, foi cortado o cordão umbilical do haicai, que deixava, assim, de ser a parte superior da waka, ou da renka, tornando-se poema autônomo, integral, completo, autossuficiente que nem de título carecia.

Os primeiros haicais foram compilados por Fujiwara no Sodaye, o mesmo que organizou os livros Shin-Kokinshu (Nova coletânea de novos e velhos Poetas) e Hyakunin Isshu (Cem Poetas), Selecionou poemas assim:

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“Chiru hana WO

Oikakete yuku

Arashi kana”

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“Vão caindo as flores

que o vendaval despetala

em perseguição.”

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Desde aí, essa forma, o haicai, passou a ser usado pelo povo já saturado da waka tão do gosto da nobreza, e mesmo da renka, com seus grupos de poetas e suas limitações, desvinculando em parte a poesia pura que é fruto de um impacto que se chama inspiração. Durante muito tempo os que aderiram à nova forma poetaram suas emoções fazendo seus jogos de palavras e suas metáforas, dentro de metrificação estabelecida, até o advento de Mune Fusa, o genial Matsuô Bashô (1644-1694), na segunda metade do Século XVII. Seus haicais, primorosas pinturas das cenas com todas as suas características poéticas, psicológicas e filosóficas. Foi Bashô (bananeira em Japonês) quem codificou, quem estabeleceu os cânones do tradicional haicai japonês. Bashô foi o Petrarca do haicai. Foi ele quem decidiu que o haicai deveria mostrar, direta ou indiretamente, a estação do ano que ele plasma ou em que a cena se desenrola, pois isso é coisa de suma importância para o contemplativíssimo búdico do povo japonês. Decidiu que o poeta não deve colocar-se dentro do haicai, transformando-o em moldura lírica do seu eu. Graças ao grande senso de estética de Bashô, o haicai não tem títulos e não trata das desgraças, terrenas ou celestes, que assolam a humanidade como as avalanches e tufões, terremotos abrindo fendas na terra, engolindo pessoas e casas, pestes dizimando populações e incêndios destruindo bairros. Nada disso encontramos nos haicais. Nos haicais dentro dos cânones ditados pelo grande mestre Bashô, há Sol, Lua, estrelas, nuvens, auroras, crepúsculos, orvalho, neblina, chuva, riachos cantando, pássaros e insetos, coisas que confortam a alma sem o menor constrangimento. O haicai, no entender de Bashô, não comportaria aquilo que no ocidente costumamos chamar de belo-horrível. O belo-horrível, não passa de uma perversão emotiva do homem ocidental que desconhece os ensinamentos do budismo.

 

O segundo homem, para falar em linguagem dos nossos dias, o segundo baluarte, o segundo pilar ou esteio, foi Taniguchi Buson (1715-1785). Grande mestre da técnica de vicejar, poeta do amor e do espírito, Buson tinha um temperamento oposto à serenidade búdica de Bashô. Para termos uma ideia de sua sensibilidade, vejamos dois haicais de sua lavra sobre a chuva da primavera; primeiro em linguagem rebuscada da corte e o segundo em simples do povo.

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“Harusame ya

dôsha no kimi no

sasamegoto”

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“ Parece um cochicho

a chuva da primavera

caindo pesada.”

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“Harusame ya

kawazu no hara no

mada nurezu”

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“ Chujva. Primavera.

Ainda nãol foi molhado

O ventre do sapo.”

 

E assim a história da poesia japonesa destacou seis dos seus maiores poetas haicaístas (Kai-mon no Reku-tetsu) Yamazaki Sôkan (1445-1553), Arakida Moritake (1473-1549), Matsu Unga Teitoku (1571-1583), Yasuhasra Teishito (1610-1673), Michiyama Shôin (1605-1682) e Matsuô Bashô (1643-1694). Uma nova lista foi feita depois, destacando os “dez mais” entre os discípulos de Bashô, chamados “dez sábios” (Jittetsu) entre os quais destacamos Enomoto Kikaku (1658 -1707) e Hattori Ransetsu (1654-1707).

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Kikaku nasceu em Kataka, província de Omi, em 1658, filho de família abastada e de primorosa educação. Seu pai, médico, pretendendo que seu filho seguisse sua profissão, aprofundou-o em estudos humanísticos. Foi tudo em vão. Sonhador irremediável, contemplativo, boêmio, esteta de rara sensibilidade, vivia unicamente para as coisas belas da vida. Discípulo direto de Bashô, herdou do grande mestre aquela maneira humana, quase divina de ver o mundo que o cercava, tornando-se logo, graças à sua cultura, um dos poetas japoneses de maior personalidade. A área de atrito entre o discípulo e o mestre, entre Kikaku e Bashô, era a maiícia, a ironia,  engraçadas da vida, o sarcasmo, a irreverência nem sempre refreável do primeiro. Interessava-se Kikaku pelos fatos burlescos, palas coisa irônicas e engraçadas da vida, Bashô era um místico. Kikaku um poeta. Bashô era um bonzo. Kikaku um homem.

 

Há uma passagem na vida de ambos bastante curiosa, que serve para mostrar, em profundidade, em radiografia, o quanto diferiam os caracteres dos dois poetas.

Certa vez, numa de suas muitas peregrinações poéticas pelo campo, em busca, certamente de novos impactos para produzir haicais, Kikaku, vendo uma libélula, fez esse haicai irreverente e, como que para provocar o mestre Bash\õ, apresentou-o para crítica:

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“ Akatombo

hane wo tottara

Tôgarashi”

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“ Despida das asas

A libélula vermelha

Fica uma pimenta.

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A desaprovação do haicai por Bashô veio imediata e solenemente. Ferido em seus sentimentos budistas, o mestre, depois de mostrar que o poema não era dos mais felizes por sua mensagem desumana, de requintada crueldade, mostrou a Kikaku que tudo havia acontecido por se ter colocado no ângulo errado, no ângulo oposto, pois ali de fato estava o poema que deveria ser assim, pois poesia não é mutilação:

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“Tôgarashi

hane wo tsuketara

akatombo”

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“ Se agregarmos asas

a uma pimenta vermelha

surge uma libélula.”

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Outo haicai que ficou célebre é aquele em que o poeta, assistindo ao Hana-matsuri (festival das flores) que no Japão tem foros de feriado nacional, descobriu, no meio da multidão que afluía para o Hana-mi (ver as flores), uma menina cega levava pela mãe.

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“ Festival das flores.

Lá vai pelas mãos da mãe

uma criança cega.”

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Kikaku faleceu aos 49 anos, em 1707, em Edo, onde havia também fundado uma escola de poesia.

 

Matsuô estudou letras clássicas e publicou em Edo, atual Tóquio, seu primeiro livro intitulado Kaiooi e depois Nozarashi-Kikô (Última viagem) onde fica bem patente sua vida de nômade, seu gosto pelas viagens. Embora filho de samurai, preferiu ser budista e poeta peregrino. Vivia em humilde cabana, que certo dia foi totalmente devorada por um incêndio, destruindo seus únicos bens – uma velha imagem de Buda e um bolo de arroz que, a rigor, dentro do ritual budista, não lhe pertencia. Com auxílio de seus discípulos reconstruiu a cabana. Quando morreu, abandonado por todos, escreveu o seguinte haicai, onde ainda se sente seu desejo de viajar:

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“Tabi ni yamite

yume wa areno wo

kakemeguru”

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“ Viajando enfermo,

meu pobre sonho percorre

um campo deserto.”

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Quando Bashô morreu seu corpo foi sepultado no jardim do templo Yoshinaka (Yoshinakadera) e, segundo alguns biógrafos, com última homenagem, plantaram sobre seu túmulo uma bananeira (Bashô em japonês).

O haicai teve seu apogeu na Era Tokugawa quando Bashô publicou seu livro imortal de poesias suas e de seus discípulos mais inspirados, intitulado Shichibushu (coletânea em 7 volumes).

Para darmos ideia do que seja o subjetivismo da poesia japonesa, citaremos esta waka escrita por Saigyo, um valente samurai que, talvez por ser poeta, preferiu trocar sua espada por um rosário. Seu Shogun (senhor feudal) por um ideal, e foi para um mosteiro falar em linguagem mais mansa, mais lírica, mais doce, confortando os que sofrem. Foi falar em versos, cantando as belezas da Terra e do Céu.

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“Kokoro naki

Mini mo aware wa

Shirarekeru

Shigi tatsu sawa no

Aki no yugure wo.”

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“ Mesmo qualquer rude

pode bem compreender

a grande tristeza

da narceja que alça voo

de um brejo em tarde outonal.”

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Este famoso poema que está perpetuado em porcelanas, charões e leques , para nós, para nossa sensibilidade acostumada à poesia demasiadamente explicativa, não lograria ser mais do que um belo tema para os fabricantes de versos. Querer criticar os japoneses, querer menosprezar a poesia japonesa para justificar a nossa deficiência de sensibilidade poética , seria sumariamente ridículo. Como acabamos de afirmar, os japoneses, sentem estes lacônicos poemas porque tem iniciação, porque desde os tempos da Deusa Sol, fundadora do Império, desde o Ano 840 antes da nossa era, até hoje, eles não usaram outra forma poética que não esta. Recebendo sempre como poema o que para nós seria apenas um tema, os japoneses se tornaram poetas para poder sentir a sua própria poesia. Em realidade, onde poderemos nós encontrar a beleza, se não a tivermos dentro de nós mesmos?

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Quando um japonês recebe um poema, após lê-lo, fecha os olhos; instintivamente, constrói os mais belos senários na beleza infinita da sua imaginação. O poema que citamos, habituado ao explicativíssimo, poderia ser mais ou menos assim:

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“Tarde cristalina de outono.

O céu tenta a Terra e a alma da gente,

com sua vastidão azul sem fim.

Com os pés plantados na terra,

no lodo de um brejo,

um valente guerreiro

Inveja a narceja que alça voo

e se perde desfeita em cor,

e sente, e sofre a tortura indizível,

a angustia profunda do não poder voar.

-

Como exemplo de haicai, daremos este célebre de Bashô, talvez a poesia mais popular do Japão.

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“ Furu ike ya

kawazu tobikomu

mizu no oto.”

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“ No tanque vetusto,

uma rã pula profundo

e as águas marulham.”

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Este microscópico poema, tão célebre, tão popular, tão antológico quão pequeno, se Bashô fosse brasileiro talvez o escrevesse assim:

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"Um velho lago parado...cerrado...calado...

de águas turvas e tranquilas,

realizava, no deslumbramento da noite clara,

seu sonho dourado de ser espelho.

Seu fundo lodoso e sombrio

refletia, cheio de orgulho,

um cortejo relumbraste de estrelas,

quando uma rã lúbrica,

saltou sobre ele num salto profano

como quem parte um espelho,

arrancando de suas aguas

um arrepio de pavor

e um gemido estrangulado de agonia.”

-

O haicai de Bashô que acabamos de citar, com sua respectiva tradução e interpretação, tem como estação de ano (kisetzu) o verão. Pois a presença da rã caracteriza o estio, pelo menos no Japão, na poesia japonesa.

(.....) Infelizmente, o haicai chegou ao Brasil via Paris, fazendo baldeação em muitas traduções, de idioma em idioma, desfigurando-se completamente, e é graças a essa viagem acidentada que ainda hoje o vemos por aí como se fosse um sobrevivente do bombardeio atômico de Nagazaki ou Hiroxima.

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Bashô – Patriarca do Haicai

Dados biográficos

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Matsuô Bashô, registrado com o nome Kinkasu, mais conhecido pelo seu pseudônimo Bashô (bananeira), foi escritor, poeta, (bonzo-budista), exponencial da poesia japonesa.

 

Nascido em família de samurais agricultores, no bairro de Ueno, em Tóquio, no ano de 1644, vindo a falecer em 12 de outubro de 1694. Foi sepultado no Templo loshinakadera às margens do lago Biwa, em Osaka. Sobre seu túmulo, seus discípulos plantaram uma bananeira – símbolo do poeta, Patriarca do haicai.

 

Aos nove anos de idade, Matsuô tornou-se pajem de Yoshitada, herdeiro dos Todo (família nobre da época), dois anos mais velho que ele. Eram irmãos em poesia. Usufruiu junto ao amigo dos ensinamentos da época ministrados por grandes mestres. Encontramos poemas assinados por Sengin e Sobo, pseudônimos literários do jovem senhor e de seu pajem. Em 1666, Yoshitada morre e a seguir, em 1667, Bashô pede para deixar o serviço da família Todo. Negam seu pedido, e ele foge para Quioto em 1672, onde complementa seus estudos de poesia, caligrafia, dos clássicos japoneses e chineses.

 

Porque as escolas Kofu e Darin entraram em decadência, criou sua própria escola chamada Shôfu. Em pouco tempo, reuniram-se em volta dele inúmeros administradores e seguidores de sua poesia contemplativa de poetas peregrinos. Excursionando de cidade em cidade. Recitava para quem quisesse ouvi-lo. Depois de visitar as principais cidades, fixou residência em Fukagawa, nas proximidades de Tóquio, passando a residir em uma cabana chamada Bashô-an, porque tinha à sua frente, uma bananeira. Em 1684, aprimorando seus conhecimentos Zen-Budistas, voltou a peregrinar pelo Japão, registrando suas viagens em diários, ou em haicais. Publicou cinco diários de viagens. Em 1689, abandonou definitivamente sua famosa Bashô-na e dirigiu-se para o norte do Japão. Peregrinou até 1694, quando já doente, instalou-se em Osaka.

Seus discípulos ficaram na história da literatura Japonesa como Jittetsu (os dez sábios), nominalmente: Kikaku, Kyorai, Kawai, Sora, Etsugin, Kagami, Shiko, Naito, Jôsô, e Otsuyu, que transmitiram sua sabedoria às gerações que se sucederam.

Transformou as formas populares de suja época em haicai, que se converteram na anotação rápida – verdadeira recriação de um momento privilegiado: exclamação poética, caligrafia, pintura e meditação; enfim, um encontro do homem com o tão propalado Caminho do meio.

 

Bashô foi discípulo do monge e mestre Zenp-Budista Buccho Osho (1643-1715), durante alguns anos.

O grande mestre do haicai, criou o instante poético tão buscado pelos poetas; a sua poesia é um círculo de silêncio e recolhimento; manancial, poço de água escura e secreta; finalmente, uma glória da poesia e do Japão.

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Luís Antônio Pimentel

 

Nasceu em Miracema a 29 de março de 1912 – Faleceu em Niterói, em 06 de maio de 2015. Jornalista, professor e memorialista brasileiro. Membro da Academia Fluminense de Letras (AFL), Academia Niteroiense de Letras (ANL) e Presidente de Honra do Grupo Mônaco de Cultura.

 

Foi aluno bolsista em intercâmbio no Japão, entre os anos de 1937-1942, familiarizando-se com o haicai, ao ter contato com autoridades como: Hagiwara Sakutarô e Takamura Kôtarô. Tem sua poesia traduzida para o inglês, alemão, francês, espanhol e sueco.

 

Pimentel é um dos precursores do haicai no Brasil, responsável pela divulgação deste tipo de poesia ao lado de Olga Savary e Helena Kolody.

 

Sua vasta obra literária, conta com livros como: Contos do Velho Nipon (1940), Tankas e haicais (1953). Cem haicais eróticos e um soneto de amor nipônico (2004). E se encontra reunida em três volumes publicados pela editora Niterói Livros, que contém o texto integral de Tankas e haicais, tal como coordenada pelo professor Nelson Eckhardt em 1953.

 

Sua obra reunida, em acurada edição crítica de três volumes, conta também com poesias compiladas inéditas até 2004, data desta edição e versões para diversas línguas, entre elas o japonês, na tradução de Yonekura Teruo.

 

Além da primeira Biografia, assinada por Alaôr Eduardo Scisinio, a obra do poeta recebeu diversos estudos, como o escrito pelo filósofo brasileiro R.S. Khlmeyer-Mertens, que nos últimos anos vem dedicando trabalhos sobre a produção de haicais do poeta, destacando o relevo do pensamento de Pimentel para a contemporaneidade. [Wkipédia].

 

Tive a honra de conviver com este mestre do haicai e o privilégio de receber  dele, nas manhãs de sábado no Calçadão da Cultura, em Niterói, nos anos 2000-2002, os primeiros esclarecimentos sobre o que seria o haicai. Eu participava como membro efetivo do Grupo Mônaco de Cultura, do qual Luís Antônio Pimentel  era Presidente  de honra.  Funcionava na Papelaria Ideal , onde o grupo se reunia para falar de literatura e livros. Ali se faziam lançamentos das obras escritas pelos membros, participantes e convidados.  Foi lá que conheci os primeiros livros de haicai, dentre eles " Na Trança do tempo" de Lena  Jesus Ponte e outros. 

 

Foi Luís Antônio Pimentel quem primeiro me falou sobre a página do Jornal Nippo Brasil que divulgava  o Haicai Brasileiro, mesmo dos principiantes,  e me forneceu o endereço. Na  página do Haicai Brasileiro conheci Edson Kenji Iura e continuei o estudo do haicai. Através dele cheguei ao Grêmio Haicai Ipê e tive a honra de também conhecer o Mestre Goga e Teruko Oda. Edson e Teruko Oda eram os mestres que conduziam o grêmio composto por outros grandes  haicaístas: Alberto Murata, Douglas Éden Brotto, Eunice Arruda, Hazel de São Francisco e outros. O Ipê passou a ser minha família haicaísta, hoje, muitas vezes  multiplicada por todos os grêmios.

 

BIBLIOGRAFIA

 

  1. Poesia – Budismo – Haicai (Vinicio Sauerbronn), Gráfica Ferraz e Editora LTDA, Rua Gen. Osório, 89 – São Domingos - Niterói – RJ - CEP24.210-190 - 1998

 

  1. II Antologia do Grêmio Haicai Águas de Março (Benedita Azevedo-organizadora), Ed. Costela Felinas – Caixa Postal 156 – Centro – São Vicente – SP - CEP: 11. 310-971 / (13) 98139-1967 - 2015

 

 

 

Luís Antônio Pimentel
Enviado por Benedita Azevedo em 28/05/2023
Alterado em 30/05/2023
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