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A Carteira e o Lula
Ontem saí da Praia do Anil, Guia de Pacobaíba, Magé – RJ, às treze horas. Christian me levou no seu fuscão 73 até Piabetá, onde apanhei o ônibus do Passeio. Seu ponto final é fronteiriço à Rua Teixeira de Freitas, Nº 05, 3º andar, onde eu assistiria à reunião mensal do InBrasCI (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais).

A reunião aconteceu na sala da FALARJ (Federação das Academias de Letras e Artes do Rio de Janeiro). Naquele momento seriam premiados os participantes das Oficinas de Trovas classificados no concurso, após o último módulo. Sendo Diretora do Meio Ambiente do ImBrasCI, participava da composição da mesa. Na ocasião, recebi o diploma como membro da comissão julgadora juntamente com Irai Verdan, Maria Madalena Ferreira e Regina Célia de Andrade. O Grêmio Haicai Sabiá como Entidade parceira e organizadora dos concursos de haicai realizados, pelo Instituto, em 2007, também foi agraciado. O horário previsto para conclusão do Evento já ultrapassara uma hora e meia. Foi servido  o tradicional lanche após o encerramento.

Eu precisava levar para o apartamento da Rua Evaristo da Veiga um quadro verde e um cavalete que usara nas oficinas de haicai.
Olhei à volta e não vi ninguém a quem pudesse pedir ajuda, pois as pessoas que ali estavam não iriam gostar de sair de uma reunião lítero-musical, carregando um quadro e/ou um cavalete pela rua fora. Sendo a última reunião do ano, não quis perder aquela oportunidade. Mesmo porque precisaria daquele material na semana seguinte.

Caminhei até a cortina que escondia atrás de si o material. Retirei-o, encostei-o perto da porta e voltei ao convívio dos confrades por mais alguns minutos. Depois apanhei a bolsa, a pasta cheia de livros e pendurei no ombro esquerdo. Pequei o cavalete com a mão esquerda e o quadro com a direita e saí. Uma senhora ofereceu-me ajuda ao sair do elevador. Mas, seu itinerário era outro que não o meu. Agradeci, apanhei novamente o quadro de sua mão e andei com passos firmes. Levei um susto quando alguém o puxou da minha mão. Olhei assustada e deparei-me com um jovem moreno, magro e sorridente que se dirigiu a mim de maneira gentil.

- Deixe-me ajudar. Tenha cuidado ao descer a calçada. A senhora para onde vai?

- Vou aqui para perto, não se preocupe. O material é grande, mas é leve.

Andamos até o final do quarteirão, x com o prédio do Automóvel Clube do Brasil. Ele parecendo preocupado recomendou:

- Meu destino é para lá (apontou com o braço esquerdo direção oposta à minha). Tenha cuidado ao atravessar a rua. Espere o sinal fechar para os carros e preste atenção que a calçada é alta.
Segui suas recomendações e logo cheguei ao apartamento. Pousei o material, abri a porta, coloquei a bolsa e a pasta sobre a mesa e voltei para guardar o quadro e o cavalete. Ao abrir a minha bolsa para apanhar a caneta, percebi que faltava minha carteira onde guardo tudo: cartões de banco, documentos, cheques e dinheiro.

Abri a porta e saí apressada. Andava o mais rápido que podia. Lamentei não ter trocado a sandália alta, salto 10, pelo sapato ortopédico preto baixinho. Andava olhando para as pedras da calçada do Passeio Público, tentando evitar as depressões entre uma e outra.  Sensurava-me a falta de atenção que me tem assaltado de vez em quando. Avançava em direção a Teixeira de Freitas Nº 05. Atravessei a primeira pista e já estava com o pé no leito da segunda, separada da primeira por uma calçada, quando uma moto com a cirene ligada parou bem à minha frente. Recuei e pus-me sobre a calçada. Do lado esquerdo, a mais ou menos dez metros,  outra moto com a cirene muito alta, pôs-se à frente do ônibus que apanhava passageiros. Alguém insinuou que houvera um assalto no ônibus. Fiquei desolada. Estava perdendo um tempo precioso.

Apareceram a seguir duas viaturas com a cirene às alturas, em alta velocidade. Olhei assustada. Mais duas viaturas e logo a seguir duas caminhonetes  seguidas de quatro motos. Só então percebi que eram batedores. Fechavam o cortejo mais duas viaturas e quatro motos. O policial da moto que se postara à minha frente acionava o pedal da partida e rápido perguntei:

- Quem está chegando?

Já de saída respondeu: - É o Lula.

O sinal abriu para pedestres. Atravessei as duas pistas  e acelerei o passo. Ao pisar na calçada do quarteirão da Teixeira de Freitas nº 05, vi de longe a figura esbelta do Dr. Antônio. Avancei rápido e percebi a silhueta da Marilza e da Vanise, sua filha. Senti-me aliviada. Imaginei que teriam encontrado a carteira e me estavam esperando. De longe perguntei.

- Encontraram minha carteira?
Ninguém me ouviu. Caminhei quase correndo e ao chegar bem perto, complementei: Perdi minha carteira com documentos, cartões e dinheiro...

-Encontrei. Tua filha já está vindo pegar. Telefonei para ela. Perdoe-me, mas tive de abrir para saber de quem era.

- Esqueci sobre a mesa, ao fazer o cheque da revista da ALAP para Mariah.

Imediatamente, Marilza ligou para Jane, que acabara de sair do seu consultório à Rua Sete de Setembro, nº 88 e me passou o telefone. Falei com ela que perdera a  carteira, porém, já fora encontrada e que a estava aguardando no meu apartamento, na Rua Evaristo da Veiga.
Depois de tudo, o retorno até o apartamento, me pareceu muito longo. Estava exausta e resolvi dormir no Rio.

Rio de Janeiro, 30.11.2007
Benedita Azevedo

Benedita Azevedo
Enviado por Benedita Azevedo em 09/02/2008
Alterado em 23/10/2012


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